Sistema econômico ruindo: à procura do novo.

A minha formação de educador e de psicólogo me manteve bastante longe da compreensão de assuntos econômicos e o que mais deveria fazer seria me manter quieto em vez de dar palpites num assunto pouco familiar. Acontece no entanto que, como qualquer cidadão, estou sofrendo as consequências de um sistema econômico em franco regime de catástrofe. pelo menos tenho o direito de perguntar aos economistas se existe saída para este estado de coisas.



Pelo que entendi até agora é que o nosso Planeta Terra não agüenta mais o consumo exagerado dos países do primeiro mundo. O hiperconsumismo está destruindo sorrateiramente a vida no nosso Gaia.


Paralelamente a isto, o terceiro mundo, situado no Sul do hemisfério tem como maior sonho chegar ao grau de desenvolvimento econômico dos países chamados desenvolvidos.


Em outras palavras: tanto o sistema capitalista como o sistema socialista cometeram o erro fundamental de acreditar num caráter ilimitado dos recursos naturais.


Diante do fato de que os recursos do planeta são limitados, não seria o caso de colocar muito mais empenho nas recomendações do relatório brundtland que introduz um novo conceito econômico de desenvolvimento "sustentável" ou em melhor português "viável"? Mas o que significa viável senão um desenvolvimento que permita preservar a vida? É isto possível? quantos números de automóveis o planeta agüenta?


Não será o caso do Norte começar a limitar o seu consumo dentro do espírito deste movimento de simplicidade voluntária que já envolve milhões de habitantes do hemisfério Norte?


Não seria o caso também de estabelecer critérios de um conforto essencial para todo mundo e mais especialmente para os países do terceiro mundo? Serão os novos índices de desenvolvimento humano (IDH) fomentados pela ONU suficientes para orientar esta tarefa?


Será o "Neo-liberalismo" capaz de assumir esta tarefa gigantesca, mesmo através da limitação dos estragos do capitalismo selvagem, ego-sócio e antropocentrado? Ou teremos de voltar a um dirigismo econômico com o risco de uma nova burocracia ditatorial?


Será que o combate às inflações dos países do hemisfério Sul, tem que passar pelo aumento do desemprego, da fome e da miséria? Para onde vai o dinheiro dos juros?


Quando é que os países do primeiro mundo sairão da sua cegueira e perceberão que estão sendo invadidos, sem guerra nem violência, por milhões de seres humanos do terceiro mundo à procura de emprego e comida? Quando é que perceberão que isto provém em grande parte de dívidas externas impossíveis de serem saldadas? Quando é que chegarão a conclusão de que o "conforto essencial" do Sul é uma condição de sobrevivência do Norte? Não será também o caso do Leste Europeu? Onde tiver pobreza haverá invasão, em geral difícil de ser controlada. Perdoar as dívidas externas não será em parte, um caminho para chegar ao conforto essencial do sul e do Leste?


Há meios econômicos de controlar o aumento populacional? E este aumento realmente é maléfico em última instância, ou haverá meios econômicos compatíveis com o conforto essencial para as novas populações surgidas deste aumento? Será que a Terra está ainda em pleno processo de ser povoada pelo ser humano?

Pierre Weil

Neocapitalismo ou Neofeudalismo?

Vivemos numa época muito curiosa e até intrigante. Algo está a nos deixar perplexos: À medida que se desenvolve o neo-capitalismo, a pobreza e a miséria aumenta. Isto se dá não somente nos países pobres, mas também nos, do primeiro mundo.



As causas são bastante conhecidas desde os estudos de Marx. Há porém fatores mais recentes que vem ainda mais piorar o quadro: a explosão populacional, a automação, a informática, o "enxugamento" dos programas de racionalização do trabalho, estão "jogar" milhões de seres humanos para a rua aumentando estupidamente o número de excluídos do processo sócio-econômico.


Com isto estamos voltando progressivamente à uma situação bastante parecida com a da época feudal, na qual tinha os senhores feudais com a sua corte e súditos que viviam numa situação financeira ótima ou razoável conforme o caso, e de outro lado a maioria do povo que padecia na miséria. O resultado era uma situação permanente de assaltos, violência, roubos, o que obrigava a classe dominante a se trancar dentro de castelos, cercados por um sistema de defesa constituído por um cinturão de água, e colossais muros. Para entrar, a famosa ponte levadiça.


Parece que estamos voltando para uma situação bastante parecida. Enquanto aumenta a pobreza e a miséria, através sobretudo do desemprego, aumentam os assaltos e, paralelamente as medidas de proteção; a única diferença com a época medieval, é que os sistemas de defesas foram modernizados. Em vez das altas paredes, temos as grades metálicas pontiagudas; no lugar da ponte elevadiça, temos o portão eletrônico; as torres de observação, foram substituídas por câmaras de televisão e os vigias que davam o alarme são agora representados por sistemas eletrônicos de alarme.


A história se repete, mas com diferenças referente à época. Os meios primitivos da era medieval foram substituídos por processos etnológicos sofisticados. Mas a situação e a sintomatologia são assustadoramente parecidos. Não será um dos sinais de alarme de que precisamos mudar de sistema econômico?

Vídeo para reflexão

Fábrica de consumidores

Era uma vez uma população de seres humanos bastantes estranhos. Era dominada por uma turma de outros seres humanos que os levava todos os dias, tal como gados, para as fábricas e escritórios, sem que eles nem pudessem reagir.



Não que eles fossem forçados a ir pelo domínio de uma polícia que os empurraria para uma espécie de curral; Não era assim que as coisas se passavam. A turma de cima era muito mais esperta e usava processo sofisticadíssimos, meios que faziam que os seres humanos nem percebiam que eram encurralados; muito antes pelo contrário: tinham a certeza que iam trabalhar com toda liberdade. o processo usado pela turma dominante era a educação. Desde o berço e depois na escola se mostrava que o objetivo da vida era a produção; sem produção não se podia viver nem sobreviver; sem produção não havia possibilidade de ganhar dinheiro; e com o dinheiro se podia comprar uma séria de coisas inúteis e ilusórias, como brincos, patinetes, rádios de pilhas, televisões, computadores, quadros, estátuas, vasos, etc.


E cada um comprava o que precisava e não precisava, também sem saber o que estava induzindo a consumir; como cada um tinha uma TV ou um rádio ou pelo menos compravam um jornal por dia, a turma de cima tinha montado um outro sistema reforçador da educação anterior: martelava a cabeça da população com anúncios, slogans, os mais diversos o que faziam com que todo mundo fossem para as lojas comprar aquilo que passavam dias e dias, produzindo nas fábricas e nas oficinas.


Assim esta população passava quase todo o seu tempo produzindo produtos para depois comprá-los e os consumir.


Eram infelizes, brigavam nos campos de futebol onde eram levados pelo mesmo processo.


Alguns raros seres humanos escapavam deste processo; Viviam escondidos em florestas; Viviam felizes, em harmonia com a natureza, sem dinheiro, nem rádio, nem TV, nem geladeira. Confiavam num ser maior cuja a natureza lhes proporcionava o conforto essencial...


E não precisa dizer que toda a semelhança com seres humanos atuais será mera coincidência...

Pierre Weil
 

Como despertar o amor...

Passei dezenas de anos sem saber o que é o verdadeiro amor. Certo dia, durante um retiro de três anos com um mestre do Tibet, perguntei a um deles: "O que é amor?" Ele me respondeu: "Amar consiste em querer a felicidade de todos os seres". Fiquei surpreso e deslumbrado com esta resposta.



Muitas pessoas tem momentos privilegiados em que se sentem invadidos por uma felicidade tal, que transborde os seus limites pessoais, e faz com que desejam que esta felicidade seja de todo mundo. Isto acontece nos primórdios de um namoro por exemplo, em que estamos como transportados pela felicidade e comunicamos isto para os outros, os amigos, os conhecidos. Neste período, podemos dizer que estamos em estado de amor.


Este, desperta quando jogamos pontes sobre as fronteiras e os limites ilusórios do nosso próprio ego, e passamos a "querer bem" ao outro. Isto pode começar com o namorado e se estender a todos seres vivos.


A questão é que este deslumbramento desaparece depois de um certo tempo criando saudades "daquele tempo" e ressentimentos pelo fato que não se consegue fazê-lo voltar. Como despertar e cultivar este estado de amor de modo permanente?


Se olharmos mais de perto o que acontece durante os primórdios de namoro vamos verificar a presença de três aspectos diferentes mas que se mantém inseparáveis quando harmoniosamente equilibrados. São eles:

1. O despertar da forma sexual da energia no ser humano, como impulso irresistível

2. O despertar de sentimentos puros, românticos, de afeição, de ternura, de doação. Este impulso é também muito forte e irresistível como o sexo. Começa a descoberta da alma do outro e da sua própria. É uma verdadeira revelação. É o impulso de erros.

3. Despertar do amor verdadeiro como descoberta da verdadeira natureza do espírito e como vivência permanente dos valores ligados a ele, tais como a beleza, a verdade, o sagrado, o caráter maravilhoso e divino da existência, o eterno da vida.


Encontramos esta distinção bastante esclarecedora no livro de Eva Pierrakos. Consideramos esta obra como uma das maiores sínteses jamais escrita sobre o assunto do amor. Ela nos mostra como Eros constitui o elo entre o sexo e o amor. A força erótica precisa ser mantida pois é ela que leva ao verdadeiro amor. Excesso de atividade sexual arrisca matar Eros. "Você deve utilizar essa força de Eros como um impulso inicial, e através encontrar o estímulo de prosseguir por seu próprio alento. Então, disse ela, você terá atraído Eros para o verdadeiro amor".


Freud já dizia que o casal que quer manter a ternura precisa limitar a freqüência das suas relações sexuais. O que Eva Pierrakos está a nos mostrar é que é importante dissolver a separatividade entre sexo, Eros e amor. Sem amor a força de Eros desaparece. "É este, sem dúvida, o problema com o casamento. A maioria das pessoas não tem condições de chegar ao casamento ideal porque é incapaz de oferecer amor puro".


Para manter um estado de amor, é preciso cultivar a força erótica uma vez instalada através da descoberta da alma de cada um. Estas almas tem qualidades infinitas, pois o espírito que as anima é eterno. A eternidade do espírito é a eternidade do amor divino.


A força criadora do sexo, se entregando a Eros, se transformará em estado permanente de amor, constantemente renovado, em força espiritual verdadeira. É uma vivência maravilhosa, ao alcance de todos os que chegaram a um certo grau de desenvolvimento espiritual.

Pierre Weil

Aborto: Nunca mais!

Num programa de TV, bastante conhecido, "Você decide", uma moça de dezesseis anos, engravida. O pai lhe sugere abortar. A avó é contra. O público decide por quase cem mil telefonemas contra e uns cinqüenta mil a favor, que a moça não deve abortar. O enredo termina com o apoio de toda família e a vitória do amor.



Isto mostra que provavelmente a maioria da população brasileira é contra o aborto. Mas isto constitua apenas uma das razões pelas quais o aborto é desaconselhável. Existem outras entre as quais podemos citar as seguintes:

Em primeiro lugar há razões ligadas ao amor da mãe pela criança e vice versa, da criança pela mãe. Logo depois da fecundação, e a medida que o feto cresce se estabeleçam profundas relações amorosas, nem sempre conscientes. Esta ligação tem natureza telepática. Basta a mãe pensar na criança e mandar-lhe amor do coração, e a criança responde mexendo no ventre materno.

Há também fatos que indicam que o feto sabe quando que a mãe pretende abortá-la. Com efeito, lembranças obtidas em terapias profundas de adultos, às vezes chegam a reviver as ameaças de aborto. Estas vivências são acompanhadas de raiva e ressentimentos. Não raro a mãe reconhece o fato e há necessidade de expressar o ressentimento e compreender os motivos da mãe para se chegar a isto, relevar e perdoar.

Por conseguinte não há diferença entre um feto e uma pessoa já nascida. Ambos são vivos. Matar um feto ou matar uma pessoa é um ato idêntico do ponto de vista ético e moral.

Terapia de pais e especialmente de mães, tem mostrado que há conseqüências psicológicas que podem se estender a dezenas de anos, tanto no plano deste frustra um destino e uma oportunidade que foi dada a esta alma de ocupar este corpo.

Quem assistiu a apresentação do filme do feto sendo destruído, e viu o sofrimento e o dilaceramento que o aborto produz, não tem mais dúvidas. Aborto é uma violência contra a natureza.

O fato da lei permitir o aborto em certos países, não muda nada ao que estamos afirmando aqui.

Muitas mães, em vez de abortar podem optar pela alternativa de entrar com um pedido de encontrar uma família que queira adotar a sua criança. Este pedido pode ser feito numa instituição que cuida de adoção.

Pierre Weil

Vídeo para reflexão

Pare um pouco...

Hoje parei um pouco, adiei minha rotina, atrasei alguns compromissos e comecei a refletir um pouco sobre nosso cotidiano atual que chamamos de vida.
E cheguei a conclusão de quanto eu corria, corria, corria... "Tentando morder o próprio rabo", "dando murro em ponta de faca", "tapando o sol com a peneira" ou sei lá, como posso definir essa pressa que , pouco a pouco vai nos desumanizando...
Pessoas andam sempre num vai e vem, atropelando umas às outras sem pelo menos tempo pra pedir desculpas, olhares indiferentes, cabeça baixa em direção aos ponteiros do  relógio calculando ,talvez, o dinheiro que estão perdendo. Já que também se perderam na lógica capitalista de que "tempo é dinheiro."
Os dias passam cada vez mais velozes, e o  que vejo é a nossa sociedade se mecanizando, pessoas cada vez mais indiferentes e infelizes. Esqueceram que a felicidade é algo simples e que a modernidade complicou tudo. O neoliberalismo nos levou a acreditar que o TER é o sentido de nossas vidas e que o SER não importa muito. Enquanto isso nosso espírito se agoniza em busca de algo que não encontramos nas coisas materiais, somente nas pessoas... São respostas que só são transmitidas através de um olhar, de um sorriso,um abraço, um beijo, uma canção, poesia,etc. Tais coisas parecem nem existir, com tanto individualismo e alheamento estamos acabando com a humanidade. É urgente resgatar nossa essência humana para que possamos viver essa vida de forma intensa. É preciso lutar contra esse sistema que nos engana a todo o tempo insistindo que "o lugar de ser feliz é o supermercado."Felicidade é mais que isso, ela está tão perto que não estamos vendo-a ,se quiser ver, faça o mesmo, pare um pouco, adie sua rotina, atrase alguns compromissos e comece a refletir isso que você chama de vida. E verá que o tempo perdido foi aquele no qual você ,em algum momento, deixou de amar...

Alexandre

La cittá futura- Gramsci



“Odeio os indiferentes. Acredito que viver significa tomar partido. Não podem existir apenas homens, estranhos à cidade. Quem de verdade existe e vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, é covardia!!! Não é vida. A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador. É a matéria que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos. É o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor que seus guerreiros. Odeio os indiferentes também porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço conta a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe cotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar minha compaixão, que não posso repartir com eles minhas lágrimas. Sou cidadão, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura, que estamos a construir”.

Gramsci

Albert Einsten

”A ciência sem a religião é manca, religião sem a


ciência é cega.”


”A maioria de nós prefere olhar para fora do que para

dentro de si mesmos.”



”A mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao

seu tamanho original.”


”Nenhuma soma de experiência pode provar que se tem

razão, mas basta uma só experiência para mostrar que se está

errado.”



”Nunca me preocupo com o futuro. Muito em breve ele

virá.”


”O Homem é um ser eletrônico moldado à sua própria

conciência.”


”O mistério da vida me causa a mais forte emoção. É o

sentimento que suscita a beleza e a verdade, cria a arte e a ciência. Se alguém

não conhece essa sensação ou não pode mais exprimir espanto ou surpresa, já é um

morto-vivo e seus olhos se cegaram.”



”O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, mas sim

por aquelas que permitem a

maldade.”


”O mundo não vai superar

sua crise atual usando o mesmo pensamento que criou essa

situação.”


”O único lugar onde o

sucesso vem antes que o trabalho é no

dicionário.”


”Os

ideais que iluminaram meu caminho e que sempre me deram uma nova coragem para

encarar a vida, foram: a bondade, a beleza e a

verdade.”


”Procure ser um homem de

valor, em vez de procurar ser um homem de

sucesso.”


”Quanto mais eu

observo o universo mais ele se parece a um grande pensamento do que a uma grande

máquina.”


”Se um

dia tiver que escolher entre o mundo e o amor… Lembre-se: Se escolher o mundo,

ficará sem o amor, mas se escolher o amor, com ele conquistará o

mundo!”



”Uma noitada em que

todos os presentes estão absolutamente de acordo é uma noitada

perdida.”

Mistério e beleza

É estranho o ser humano,
deseja tanto um alguém
que possa compartilhar sonhos e planos
abraçar e ser abraçado

ensinar e ser ensinado.
E quando isso acontece,
logo o ser se desespera.
Temendo o futuro e incertezas
E não entendem que mistério e beleza
são coisas que andam sempre juntas.



Alexandre

O mistério de amar



Há tantos mistérios entre o amor e o desejo
de que entre a terra e o céu.
Uns entendem como uma só coisa,
outros pensam amar quando simplesmente,desejam...
O desejo parte de nós e retorna
o amor parte de nós e se estabelece no outro.
É algo que desafia as ciências, a razão e paradigmas,
pois quando mais se ama,mais existe amor.
Ele não se desgasta,apenas se renova.
É arte, poesia, prosa...
É tudo que resulta em sorrisos, que nos leva ao paraíso
e nos mostra que o sentido da vida se resume em amar...

Alexandre  14/09/2009

Muito cedo para decidir


Rubem Alves

Gandhi se casou menino. Foi casado menino. O contrato, foram os grandes que assinaram. Os dois nem sabiam direito o que estava acontecendo, ainda não haviam completado 10 anos de idade, estavam interessados em brincar. Ninguém era culpado: todo mundo estava sendo levado de roldão pelas engrenagens dessa máquina chamada sociedade, que tudo ignora sobre a felicidade e vai moendo as pessoas nos seus dentes. Os dois passaram o resto da vida se arrastando, pesos enormes, cada um fazendo a infelicidade do outro.



Vocês dirão que felizmente esse costume nunca existiu entre nós: obrigar crianças que nada sabem a entrar por caminhos nos quais terão de andar pelo resto da vida é coisa muito cruel e... burra! Além disso já existe entre nós remédio para casamento que não dá certo.



Antigamente, quando se queria dizer que uma decisão não era grave e podia ser desfeita, dizia-se: "isso não é casamento!". Naquele tempo, sim, casamento era decisão irremediável, para sempre, até que a morte os separasse, eterna comunhão de bens e comunhão de males. Mas agora os casamentos fazem-se e desfazem-se até mesmo contra a vontade do Papa, e os dois ficam livres para começar tudo de novo...



Pois dentro de poucos dias vai acontecer com nossos adolescentes coisa igual ou pior do que aconteceu com o Gandhi e a mulher dele, e ninguém se horroriza, ninguém grita, os pais até ajudam, concordam, empurram, fazem pressão, o filho não quer tomar a decisão, refuga, está com medo. "Tomar uma decisão para o resto da minha vida, meu pai! Não posso agora!" e o pai e a mãe perdem o sono, pensando que há algo errado com o menino ou a menina, e invocam o auxílio de psicólogos para ajudar...



Está chegando para muitos o momento terrível do vestibular, quando vão ser obrigados por uma máquina, do mesmo jeito como o foram Gandhi e Casturbai (era esse o nome da menina), a escrever num espaço em branco o nome da profissão que vão ter.



Do mesmo jeito não: a situação é muito mais grave. Porque casar e descasar são coisas que se resolvem rápido. Às vezes, antes de se descasar de uma ou de um, a pessoa já está com uma outra ou um outro. Mas, com a profissão não tem jeito de fazer assim. Pra casar, basta amar.



Mas na profissão, além de amar tem de saber. E o saber leva tempo pra crescer.



A dor que os adolescentes enfrentam agora é que, na verdade, eles não têm condições de saber o que é que eles amam. Mas a máquina os obriga a tomar uma decisão para o resto da vida, mesmo sem saber.



Saber que a gente gosta disso e gosta daquilo é fácil. O difícil é saber qual, dentre todas, é aquela de que a gente gosta supremamente. Pois, por causa dela, todas as outras terão de ser abandonadas. A isso que se dá o nome de "vocação"; que vem do latim, vocare, que quer dizer "chamar". É um chamado, que vem de dentro da gente, o sentimento de que existe alguma coisa bela, bonita e verdadeira à qual a gente deseja entregar a vida.



Entregar-se a uma profissão é igual a entrar para uma ordem religiosa. Os religiosos, por amor a Deus, fazem votos de castidade, pobreza e obediência. Pois, no momento em que você escrever a palavra fatídica no espaço em branco, você estará fazendo também os seus votos de dedicação total á sua ordem. Cada profissão é uma ordem religiosa, com seus papas, bispos, catecismos, pecados e inquisições.



Se você disser que a decisão não é tão séria assim , que o que está em jogo é só o aprendizado de um ofício para se ganhar a vida e, possivelmente, ficar rico, eu posso até dizer: "Tudo bem! Só que fico com dó de você! Pois não existe coisa mais chata que trabalhar só para ganhar dinheiro."



É o mesmo que dizer que, no casamento, amar não importa. Que o que importa é se o marido — ou a mulher — é rico. Imagine-se agora, nessa situação: você é casado ou casada, não gosta do marido ou da mulher, mas é obrigado a, diariamente, fazer carinho, agradar e fazer amor. Pode existir coisa mais terrível que isso? Pois é a isso que está obrigada uma pessoa, casada com uma profissão sem gostar dela. A situação é mais terrível que no casamento, pois no casamento sempre existe o recurso de umas infidelidades marginais. Mas o profissional, pobrezinho, gozará do seu direito de infidelidade com que outra profissão?



Não fique muito feliz se o seu filho já tem idéias claras sobre o assunto. Isso não é sinal de superioridade. Significa, apenas, que na mesa dele há um prato só. Se ele só tem nabos cozidos para comer, é claro que a decisão já está feita: comerá nabos cozidos e engordará com eles. A dor e a indecisão vêm quando há muitos pratos sobre a mesa e só se pode escolher um.



Um conselho aos pais e aos adolescentes: não levem muito a sério esse ato de colocar a profissão naquele lugar terrível. Aceitem que é muito cedo para uma decisão tão grave. Considerem que é possível que vocês, daqui a um ou dois anos, mudem de idéia. Eu mudei de idéia várias vezes, o que me fez muito bem. Se for necessário, comecem de novo. Não há pressa. Que diferença faz receber o diploma um ano antes ou um ano depois?



Em tudo isso o que causa a maior ansiedade não é nada sério: é aquela sensação boba que domina pais e filhos de que a vida é uma corrida e que é preciso sair correndo na frente para ganhar. Dá uma aflição danada ver os outros começando a corrida, enquanto a gente fica para trás.



Mas a vida não é uma corrida em linha reta. Quando se começa a correr na direção errada, quanto mais rápido for o corredor, mais longe ele ficará do ponto de chegada. Lembrem-se daquele maravilhoso aforismo de T. S. Eliot: "Num país de fugitivos os que andam na direção contrária parecem estar fugindo."



Assim, Raquel, não se aflija. A vida é uma ciranda com muitos começos.



Coloque lá a profissão que você julgar a mais de acordo com o seu coração, sabendo que nada é definitivo. Nem o casamento. Nem a profissão. E nem a própria vida...



O escritor responde a uma estudante angustiada e dá aos pais motivos para meditarem sobre a escolha da profissão.





O texto acima foi extraído do livro "Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares", editora Ars Poetica — São Paulo, 1995, pág. 31.



Rubem Alves: tudo sobre o autor e sua obra em "Biografias".

Amar...

Aprendi que amar dá trabalho,
não é algo fácil, é renúncia...
Sendo o ser humano tão egoísta
como é possível amar de fato?


É urgente amar, tudo está as ruínas.
Corpos sem abraços, rostos sem beijos,
devemos deixar o orgulho de lado,
dar o braço a torcer,vencer o medo.

Amor é razão,força...
Por isso é capaz de mover o mundo
Não existe ninguém mais poderoso
Do que aquele que aprendeu que o amor pode tudo.


(Alexandre 27/08/2009)

Complicado

A vida é mesmo engraçada
uma hora a gente ri, depois cala.
Parecemos voar de tanta alegria
Ao mesmo tempo parecemos estar numa vala.


É como se eu fosse outro
E esse outro se dividisse em dois
E esses dois se transformassem em vários
E esses vários variasse tanto, que ficasse tudo complicado.

Alexandre  31/08/2009

O Clube da Esquina

No início da década de 1960, jovens músicos iniciaram uma série de encontros despretensiosos. Amigos que se conheceram aos poucos, de vários lugares, mas que se cruzaram em Belo Horizonte, iriam provocar uma revolução musical. Freqüentadores assíduos de bares, restaurantes e pontos boêmios, criaram várias referências na ainda jovem capital mineira. Mas o lugar que realmente tem as suas caras é certo cruzamento, entre as ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro de Santa Tereza.

Próximo de lá, morava um jovem de nome Salomão Borges Filho, ou simplesmente Lô, como fora apelidado. Lô, que era filho do meio entre onze filhos, e a esquina próxima à sua casa, seriam imortalizados. Começava a se desenhar o Clube da Esquina.

O Clube contou em sua totalidade com quarenta e um integrantes, mas a maioria desses componentes não teve relação direta com os trabalhos do Clube. Eis aí uma forte característica do grupo: não era algo fechado, burocrático. Todos podiam dar opinião e contribuições. Foi inicialmente representado por Milton Nascimento, Wagner Tiso, Fernando Brant, Nivaldo Ornelas, Paulo Braga, Toninho Horta e Márcio Borges. Algum tempo depois, Flávio Venturini, Lô Borges, Beto Guedes, Celso Adolfo e uma verdadeira constelação de compositores, intérpretes e colaboradores foram sendo agregados.

Para melhor entender a época abordada, faremos uma breve contextualização política e cultural.

O Brasil vivia, desde 1964, uma ditadura militar, e direitos básicos como a liberdade de imprensa e de expressão foram fortemente podados. Nos Estados Unidos, o movimento hippie ganhava força, assim como o movimento feminino e os beatniks. Na França ocorreu o lendário maio de 1968.

Na música, o rock’n’roll era a sensação do momento. Grupos como Rolling Stones, Beatles, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, ditavam as regras do inovador estilo em voga. O Rock’n’roll, que se baseava no blues dos negros americanos, com guitarras distorcidas e com maior velocidade, se destacava também por suas letras de protesto – assim como sua atitude.

Entre os tupiniquins, a Bossa Nova havia surgido no fim da década de 1950. O termo designa um movimento que misturava samba e jazz. Possui forma específica de ser tocada, com batida inconfundível e acordes dissonantes, além de ser cantada suavemente. A Jovem Guarda tentara absorver a influência do rock americano, e tornou-se febre em meados da década de 1960. Seu ritmo ficou conhecido como iê-iê-iê e utilizava-se de letras descontraídas, voltadas para o público adolescente. Por fim, a Tropicália, ou Tropicalismo, foi uma manifestação em diversas áreas culturais, mas se destacou na música, com fortes posturas comportamentais.

Em meio a tanto reboliço e apreensão, esses jovens se encontraram, fortaleceram seus laços, e lançaram os dois trabalhos: Clube da Esquina, de 1972, e Clube da Esquina 2, de 1978.

Confira a história em QUADRINHOS do clube da esquina nesse link:
http://www.museudapessoa.net/clube/clubeemquadrinhos/#


Confira aqui também um videozinho no qual eu tento tocar Clube da Esquina n°2.
http://www.youtube.com/watch?v=bgZuDH0N7Zk&layer_token=df09d450cb5f11c2

Juventude e política

Falar em política para a maioria dos jovens pode significar hoje sinônimo de apatia. "Essa apatia política é conseqüência da extrema agressividade com que a sociedade trata a juventude. As autoridades públicas não se mobilizam para garantir proteção ao jovem", explica Augusto Caccia-Bava Júnior, professor do Departamento de Sociologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araraquara.



O desinteresse do adolescente pela política é refletido nos movimentos estudantis secundaristas e universitários. Segundo Caccia-Bava, a juventude que está formalmente constituída em partidos políticos poderia ser mais participativa, mas atua mais como cabo eleitoral. Ele acredita que algumas instituições partidárias e organizações não governamentais neutralizam a possibilidade de maior participação dos jovens na política. "Os jovens precisam voltar a constituir ideais", disse.


Nas décadas de 50 e 60, houve grande mobilização política dos jovens em movimentos pela paz e de combate à pobreza. "Com o golpe militar em 1964, tudo se interrompeu", diz. "Em meados da década de 80, houve a perspectiva da redemocratização do país."


O movimento dos caras-pintadas em protesto ao governo de Fernando Collor de Melo entrou para a História pela ousadia e persistência dos jovens. "A década de 90 é uma década de retomada política, no sentido de movimentos de resistência à corrupção", diz o professor.


DIFERENCIAL - Países latinos, como Argentina, Uruguai, Chile e Peru mantêm políticas juvenis relacionadas à cultura e cidadania na perspectiva profissional. De acordo com Caccia-Bava, a Argentina, por exemplo, tem organizações de jovens constituídas em âmbito nacional. "Nesses países, os jovens têm seus direitos constituídos", afirma. "O ponto de partida para a formação dos jovens é pensar a partir dos direitos que eles devem ter no Brasil."


Caccia-Bava acredita que não faltam projetos de formação profissional do ponto de vista técnico no país. No entanto, ele destaca que os projetos não estão associados a direitos.


Para se profissionalizar, o adolescente faz cursos do Senac, por exemplo, e dois anos depois é considerado pela empresa brasileira um adulto integrado ao mercado de trabalho. "O processo de profissionalização tecnicamente concebido como existe no país não leva à definição da identidade do jovem do ponto de vista da sua cultura", conclui.


Na opinião do professor, é necessário existir uma pauta de direitos que atendam às necessidades dos jovens. "Toda a política social voltada ao jovem atinge-o de forma periférica", explica o professor, que acredita que a formação profissional não implica exercício da cidadania porque é direcionada ao mercado de trabalho que está em desagregação.

A poesia e eu

Eu sou letra simples
minha caligrafia sou eu
um suburbano, com fé e rebeldia

visionário ou estrangeiro de um país
operário sem medo de ser feliz
de olhos castanhos a olhar pro céu
panfletando minha arte e minha raiz


por isso a poesia não me abandonou, nunca
me deixou
por isso a poesia não me abandonou

eu, somente eu
escrito por mim sozinho
ninguém mais do que eu
minha voz, sou eu sozinho

de fato é difícil conviver assim
com tudo aquilo que eu quero de mim
de fato é pesado ter que aceitar
toda realidade que sinto no ar

( Kim-Catedral)

Se eu fosse um padre...

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
— muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
...e um belo poema — ainda que de Deus se aparte —
um belo poema sempre leva a Deus!

(Mário Quintana)

O que está acontecendo com o mundo?

Muitas vezes me pego a pensar no mundo...O que está acontecendo com ele?
Tenho sempre a sensação de estar rodeados por pessoas que esqueceram de viver e simplesmente existem.Olhares opacos e sem vida,dentes cerrados e cabeça baixa...Pessoas que se arrastam dia após dia e que encaram o amanhecer não como uma dádiva divina,mas como mais um íngreme degrau de uma vida lastimável.

Por favor,alguém me diga!O que está acontecendo com o mundo?

O que é o amor?

Ando pelas ruas, milhares de pessoas
Elas não se olham nem trocam sorrisos
Quanta indeferença...
Afinal,o que é o amor?


Vejo nos jornais,notícias diversas
chacinas,guerras,mortes e outras mais
Quanta dor...
Afinal,o que é o amor?



A incessante busca pelo prazer do dinheiro
levando o mundo inteiro a se globalizar
vejo várias pessoas à margem do sistema
sem,ao menos,água pra tomar.


Andam falando que o mundo carece de amor
talvez possam um dia acabar com a dor
mas como mudar alguma coisa,
se as pessoas não sabem o que é o amor?


Não termino meu poema
sem antes um grande segredo lhes contar
que a maior necessidade do ser humano
é de um dia aprender amar...


Alexandre 18/03/2009

A razão do descartável

Descartei minhas ideias
meus valores meus sonhos...
Nessa cultura do descartável
vou descartando tudo.


Sugo o líquido da embalagem,jogo-a fora
Sugo a saliva de seus beijos e te mando embora
Você se apaixona e te digo sem demora:
Só quero teu prazer...

O amor?Mas,o que é isso?
Descartaram e relativizaram tudo
O amor talvez seja uma ilusão tosca
por isso faça como todos,Descartes...


Alexandre 02/09/09

Liberdade para votar

"O voto não tem preço, tem consequências" (Campanha Voto Cidadão)

As eleições municipais caracterizam-se por uma disputa densa, acirrada e mais controlada pelos agentes da política. A relação estabelecida entre candidatos e eleitores quase sempre pressupõe, como moeda de troca, favores e promessas de cunho pessoal, direto e familiar. Neste contexto, a compra de voto é uma prática recorrente, apesar de proibida. As promessas mirabolantes e oportunistas também são utilizadas na perspectiva de soluções fáceis, para problemas complexos. Corromper e ser corrompido tornam-se atos quase naturais, próprios da atividade política e partidária, em tempos eleitorais.

Nosso povo já tem a consciência de que vender seu voto é vender-se. Sabe que trocar seu voto por algum benefício é abrir mão de sua consciência. Por outro lado, vê nas eleições uma oportunidade única de resolver algum de seus mais eminentes problemas ou dificuldades. Em grande medida, associa compra de votos à ações que envolvem transações de dinheiro, mas não à obtenção de utensílios, vantagens ou bens materiais como uma carga de pedra, um poste de luz, uma oportunidade de emprego, um rancho, uma dúzia de telhas ou de tábuas, uma consulta médica. Para muitos, o período eleitoral torna-se oportunidade de um décimo terceiro ou quarto salário, e que tem prazo para ser cobrado: até o dia da eleição.

O descrédito dos políticos está na base das atividades que geram a corrupção. A facilidade com que os mesmos fazem política, sem levar em conta os interesses da coletividade, descaracterizou a atividade política, confundindo política e politicagem. Estranho é que, aqueles que condenam tais práticas, fazem uso dela para beneficiar-se, contribuindo assim para uma cultura onde o bem-comum é relativizado, prevalecendo sempre a conquista sorrateira e indevida dos favores ou benefícios conseguidos em períodos eleitorais. É igualmente uma ilusão achar que temos liberdade se muitos de nós estão iludidos naquilo que tem de decidir.

Muitos políticos odeiam os que combatem as práticas ilícitas de galgar consciências e votos. Muitos deles detestam os que pregam o voto consciente e cidadão. Mas como posicionar-se contra estes lhes custaria um alto preço, buscam desqualificá-los pessoalmente, saindo da esfera democrática e das idéais para a esfera da desconstituição moral, pública e política.

A desmotivação e o desinteresse da população pela política também é originada pela pouca renovação das pessoas nos cargos do legislativo e do executivo. Eleição após eleição, quase sempre os mesmos é que se elegem, criando assim uma classe profissionalizada de políticos. As câmaras de vereadores acabam sendo pouco representativas pelo número de vereadores que podem ser eleitos, principalmente nas médias e grandes cidades.

O verdadeiro compromisso da democracia deve ser a efetivação dos direitos já conquistados na legislação na vida prática e cotidiana de todos os cidadãos e cidadãs. É preciso revigorar a democracia para o atendimento das necessidades coletivas, orientando os agentes políticos para que suas decisões sejam feitas a favor das maiorias. Os direitos não são benefícios, mas resultado de conquistas da sociedade.

As eleições municipais são uma oportunidade de nos reconhecermos como moradores/habitantes das cidades. Como expressa a campanha da Justiça Eleitoral, "uma cidade é a cara de quem a governa". A verdadeira política é aquela que está em busca de soluções para os nossos maiores problemas. E eleição não é um jogo (como o de futebol), mas tem a ver com o compromisso e o enamoramento que todos nós assumimos com a gente mesmo. Afinal de contas, quem é a cidade senão a sua gente?


Nei Alberto Pies,
professor e militante de direitos humanos.
Endereço eletrônico: pies.neialberto@gmail.com

Amar-se para dar-se...


Você já sabe que amar é dar´se ao outro integralmente, gratuitamente, para construí´lo.É a essência da vida a dois e o fermento que faz o casal crescer. Mas, para que você possa dar´se a alguém, livremente, você precisa possuir´se; ser senhor de si mesmo. As pessoas transformam o amor em egoísmo porque não têm o domínio de si mesmas, e não conseguem dar´se, mas apenas tomar e receber. A grande crise do homem moderno é que ele dominou o macrocosmo das estrelas e o microcosmo das bactérias e dos átomos, mas perdeu o domínio de si mesmo.

Não é mais homem! O senhor do mundo perdeu o controle de si mesmo e geme sufocado sob o peso daquilo que ele criou com a beleza das suas mãos e da sua inteligência. É um escravo da matéria que domesticou! Podemos dizer que há uma desintegração do homem porque ele permitiu que a matéria tomasse a primazia do espírito sobre a sua vida. As descobertas e invenções da moderna tecnologia nos deixam extasiados, seja no campo da informática, da biotecnologia ou da medicina. No entanto, esse homem fantástico que dirige o universo, não consegue dirigir´se a si mesmo.

Como conseqüência disso assistimos os tristes flagelos das guerras, da fome, da violência, etc., que ainda pesam dolorosamente sobre tantos. Não há dúvida de que todos esses problemas já teriam sido resolvidos se o homem tivesse o domínio sobre si mesmo e permitisse que o amor guiasse os seus passos. Não falta comida para todos, não faltam recursos materiais e naturais para sanar os problemas atuais, o que falta é o homem devidamente construído; caminhando de pé, como Deus o fez. Como muito bem mostrou Michel Quoist, no seu belo livro ´Construir o Homem e o Mundo´ (Livraria Duas Cidades, 1976, SP, 26ª edição), o homem está escravizado pela própria matéria que ele domesticou, e seu espírito agoniza... O que será o homem sem a primazia do espírito? Um escravo, escravizado pela própria tecnologia que desenvolveu. Não é somente hoje que isto ocorre. Em proporções diferentes a História Universal mostra que as civilizações caíram (Roma, Grécia, Bizâncio,...) muito mais pelo próprio apodrecimento interior do que por causa das invasões exteriores.

O inimigo externo vence quando o interior está corroído em vista da agonia do espírito sob a matéria. Todo o progresso atual é belo e necessário, mas é preciso resgatar o homem como Deus o quis. Quanto maior for o sucesso do homem, mais a sua espiritualidade precisará crescer para não sucumbir ou se deixar cegar pelo brilho das suas descobertas. O Papa João Paulo II numa de suas primeiras encíclicas: ´Redentor dos Homens´, mostrou bem claro que o homem hoje teme exatamente aquilo que ele criou com o gênio da sua inteligência e de suas mãos; e que isto ocorre porque colocou a técnica sobre a ética e a matéria sobre o espírito.

A conseqüência disso tudo que foi dito acima, é a agonia do amor e a vitória do egoísmo e da morte. Sem ser senhor de si mesmo você não consegue dar´se, não consegue amar. Só consegue ser egoísta. É fácil constatar que hoje as piores doenças começam a ser do espírito, e não do corpo. Cresce o número de psiquiatras e psicólogos e alastra´se a depressão. São as conseqüências dos desequilíbrios de um mundo onde o amor agoniza, porque o homem abandonou Deus.

Maravilhado com os seus feitos, o homem se adora como o seu próprio deus, e por isso deixa´se esmagar pela matéria. Eis a triste realidade hoje: o homem adora as coisas e a si mesmo no lugar de Deus, e inverte a escala dos valores. Então o amor morre. Para que você possa amar de verdade, como Deus quer, é preciso que você caminhe ´de pé´, isto é, respeitando a primazia dos valores: em cima, o espírito; depois o racional; e abaixo o físico. Se o teu corpo domina o teu espírito, então você caminha de cabeça para baixo.

Os três níveis são fundamentais para a vida, mas é imprescindível que a sua hierarquia seja respeitada, sob pena do homem se tornar um perigoso animal. É o corpo que assume o comando quando a sensibilidade é satisfeita sem restrições, ou quando o satisfazemos com todos os prazeres da comida, da bebida, do sexo, que ele exige. Você caminha de cabeça para baixo quando é o corpo que dá as ordens. Aí então vive´se como um verdadeiro animal, apenas para comer, beber, dormir e gozar os prazeres do sexo. É o instinto que comanda, não a razão.

Como uma pessoa dessa pode amar, como pode dar´se, renunciar a si mesmo, se o que importa é a satisfação do ´seu´ corpo? Quando o corpo impera, a razão enfraquece, o espírito agoniza, e o amor perece. Muitas vezes você pode estar andando de cabeça para baixo: ´ quando você capitula diante daquele prato saboroso, e come sem limite...; ´ quando você não consegue tirar o seu corpo da cama na hora certa, e deixa´o dormir à vontade...; ´ quando o prazer do sexo o faz perder a cabeça, e atirar´se a ele descontrolado; sem um compromisso; ´ quando você se atira aos prazeres de todas as formas. Você também pode deixar de caminhar de pé se é a sensibilidade que comanda os seus atos, e não o espírito. É claro que a sensibilidade é importantíssima; ela nos diferencia dos animais; mas não pode ser a imperatriz dos nossos atos. Não podemos ser conduzidos apenas pelo ´sentir´. Se for assim você pode achar que uma pessoa está certa apenas porque lhe é simpática, ou muito amiga, e não porque, de fato, ela tem razão. Seu juízo será parcial e errado.

Sua análise e seu julgamento serão conduzidos pelo sentimento e não pela razão. Você é escravo da sensibilidade se, por exemplo, ´ só aceita participar da missa celebrada por ´aquele´ padre que você aprecia; ou quando qualquer palavra de crítica o ofende, magoa, e deixa´o prostrado na fossa; ´ quando você só reza e só vai à missa quando ´sente´ vontade; ´ quando você fica derrotado porque ninguém notou os seus esforços e ninguém o elogiou; ´ quando você troca o sonho pela realidade; ´ quando não se aceita a si mesmo como você é; ´ quando você não estuda a matéria ministrada por aquele professor que não lhe é simpático.

Nestas ituações, e muitas outras, você pode estar se ´arrastando´ ao invés de caminhar de pé, guiado pelo espírito. Isto só será possível quando o seu espírito, fortalecido pelo Espírito Santo, comandar a sensibilidade e o corpo. A sensibilidade é bela, é ela que faz você chorar diante da dor e do sofrimento do outro, mas ela precisa ser controlada pelo espírito. Um cavalo fogoso pode leva´lo muito longe se você tiver firme as suas rédeas; mas pode jogá´lo ao chão se não for dominado. Se você permitir que o corpo ou a sensibilidade assumam o comando dos seus atos, então você não estará em pé, e não estará preparado para amar como é preciso. Agora você está entendendo melhor porque não é fácil amar; e porque o amor ainda não comanda a vida na terra.

Para amar é preciso possuir´se; e para possuir´se é preciso exercitar o amor. Por isso o namoro é uma bela escola de amor. Se você quiser ser uma pessoa de pé, faça´se sempre esta pergunta: o que me fez agir assim, ou decidir assim, ou reagir daquela forma ? Foram as exigências do seu corpo que falaram mais alto? Foi a sensibilidade que gritou mais alto e venceu? Foi o espírito, guiado pela inteligência, que predominou? É claro que por nossas próprias forças não poderemos caminhar de pé. Jesus avisou que ´o espírito é forte, mas a carne é fraca´. Portanto, você precisa da força de Deus para suportar a sua natureza enfraquecida pelo pecado original. Você pode caminhar de pé, com a graça de Deus, pois o grande Santo Agostinho experimentou na sua vida que ´o que é impossível à natureza é possível à graça´. Não desanime e não se desespere, o Senhor o aguarda para ajudá´lo com a Sua força. Vá a Ele. Tenha a coragem de olhar´se de frente e aceitar a sua realidade atual. Em seguida peça ao Senhor que lhe dê a Sua graça para que você possa ser um rapaz ou uma moça ´em pé´, apto para amar de verdade.

O grande homem...




Mantém o seu modo de pensar independentemente da opinião pública. É tranqüilo, calmo, paciente. Não grita nem se desespera. Pensa com clareza, fala com inteligência, vive com simplicidade. É do futuro, e não do passado. Sempre tem tempo. Não despreza ser humano algum. Causa a impressão dos vastos silêncios da natureza testemunhados pelo céu.

Não é vaidoso. Como não anda à cata de aplausos, jamais se ofende. Possui sempre mais do que julga merecer. Está sempre disposto a aprender, mesmo das crianças. Despreza a opinião própria tão logo verifique o seu erro. Traz dentro de si as antenas da verdade, que não lhe permite deixar´se inchar pelo louvor ou deprimir pela censura.

Não obstante essa equanimidade, não é frio: Ama, sofre, compreende, sorri. O que você possui ´ dinheiro ou posição ´ nada significa para ele. Só lhe importa o que você é. Não respeita usos estabelecidos e venerados por espíritos mesquinhos. Respeita somente a verdade. Tem mente de homem e coração de menino. Conhece´se a si mesmo tal qual é, e conhece a Deus.