Juventude e política

Falar em política para a maioria dos jovens pode significar hoje sinônimo de apatia. "Essa apatia política é conseqüência da extrema agressividade com que a sociedade trata a juventude. As autoridades públicas não se mobilizam para garantir proteção ao jovem", explica Augusto Caccia-Bava Júnior, professor do Departamento de Sociologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araraquara.



O desinteresse do adolescente pela política é refletido nos movimentos estudantis secundaristas e universitários. Segundo Caccia-Bava, a juventude que está formalmente constituída em partidos políticos poderia ser mais participativa, mas atua mais como cabo eleitoral. Ele acredita que algumas instituições partidárias e organizações não governamentais neutralizam a possibilidade de maior participação dos jovens na política. "Os jovens precisam voltar a constituir ideais", disse.


Nas décadas de 50 e 60, houve grande mobilização política dos jovens em movimentos pela paz e de combate à pobreza. "Com o golpe militar em 1964, tudo se interrompeu", diz. "Em meados da década de 80, houve a perspectiva da redemocratização do país."


O movimento dos caras-pintadas em protesto ao governo de Fernando Collor de Melo entrou para a História pela ousadia e persistência dos jovens. "A década de 90 é uma década de retomada política, no sentido de movimentos de resistência à corrupção", diz o professor.


DIFERENCIAL - Países latinos, como Argentina, Uruguai, Chile e Peru mantêm políticas juvenis relacionadas à cultura e cidadania na perspectiva profissional. De acordo com Caccia-Bava, a Argentina, por exemplo, tem organizações de jovens constituídas em âmbito nacional. "Nesses países, os jovens têm seus direitos constituídos", afirma. "O ponto de partida para a formação dos jovens é pensar a partir dos direitos que eles devem ter no Brasil."


Caccia-Bava acredita que não faltam projetos de formação profissional do ponto de vista técnico no país. No entanto, ele destaca que os projetos não estão associados a direitos.


Para se profissionalizar, o adolescente faz cursos do Senac, por exemplo, e dois anos depois é considerado pela empresa brasileira um adulto integrado ao mercado de trabalho. "O processo de profissionalização tecnicamente concebido como existe no país não leva à definição da identidade do jovem do ponto de vista da sua cultura", conclui.


Na opinião do professor, é necessário existir uma pauta de direitos que atendam às necessidades dos jovens. "Toda a política social voltada ao jovem atinge-o de forma periférica", explica o professor, que acredita que a formação profissional não implica exercício da cidadania porque é direcionada ao mercado de trabalho que está em desagregação.

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