Pais erram ao tentar suprir ausência com bens materiais

A criação dos filhos tem se confundido com a capacidade de dar coisas para eles. Vemos famílias sofrendo por não poderem dar determinado bem material para sua prole. Como se a posse de algo garantisse a felicidade de alguém.


Isso faz com que os pais trabalhem muito. Nesse caminho, alguns se distanciam dos filhos de tal modo que não conseguem acompanhar o desenvolvimento deles. Outros acabam tentando a vida por outras terras e ficam impedidos de orientá-los de maneira adequada, deixando a cargo de alguém de confiança essa tarefa.

Temos visto cada vez mais configurações familiares onde a tradicional perdeu espaço: pai, mãe e filhos. E quanta falta faz essa dupla na vida das crianças e adolescentes.

Com isso, muitos jovens têm como valores aquilo que se refere ao ter e possuir. Estudo e trabalho acabam ficando de fora. E uma das coisas mais valorizadas, mas não só pelos jovens, é a aparência física.

Vaidade

Vemos desde cedo crianças e adolescentes vaidosos além da conta. A beleza e seus padrões, o culto ao corpo e a estética ocupam, muitas vezes, lugar de destaque em suas vidas.

Tanto é assim que, por incrível que pareça, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, no período de um ano, entre 2007 e 2008, 13% dos pacientes que fizeram algum tipo de procedimento estético estão na faixa dos 14 aos 18 anos – cerca de 100 mil jovens fizeram cirurgia plástica.


Fora os controladores de apetite nessa busca sem limites da magreza e outras drogas, como essa que parece ter vitimado a jovem Jenyfer Sthefane semana passada – os anabolizantes.


Essa garota, no intuito de ter um corpo perfeito -segundo consta, beleza física não lhe faltava- tornou-se uma assídua aluna da academia de ginástica. Não satisfeita e querendo resultados além dos possíveis com os exercícios físicos e de maneira mais rápida, recorreu a remédios a base de testosterona (hormônios masculinos), para tornar sua musculatura mais rija. Morava com a avó, saiu da escola havia três anos e não via a mãe que vivia nos EUA havia cinco. O pai morava em outro estado.

Mesmo sendo alertada dos perigos da medicação, inclusive pela mãe, não se importou. Como a maioria dos adolescentes, de maneira onipotente, achava que nada ia acontecer com ela. Só que seu corpo sucumbiu a esse ataque de drogas.

Quantas lágrimas poderiam ser evitadas caso ela tivesse sido bem orientada. A própria mãe considera que seu afastamento pode ter contribuído para esse desfecho. No entanto, foi em busca de um futuro melhor.

Futuro melhor entende-se possibilidades materiais maiores. E as necessidades emocionais e de cuidado, como ficam nessa história? Provavelmente num plano outro que não o principal. O que é uma pena. Essas são necessidades reais e legítimas dos nossos filhos. As outras, incluíndo a beleza física, são criadas por nós que, de alguma forma, tentam substituir as que realmente importam. E como isso não é possível, a busca fica incessante, nunca está bom, porque o alimento que é dado para suprir as verdadeiras carências é o errado.

Faz-se uma confusão daquilo que é realmente necessário. Possivelmente, pessoas que se importam tanto com a aparência física não se enxergam como tendo mais que um corpo, reduzindo-se a ele.

No caso de Jenyfer, ela acabou destruindo aquilo que lhe era mais importante. O pior aconteceu. Que isso sirva de alerta para que, mais que dar coisas materiais para nossos filhos, possamos enxergar as necessidades que eles têm de atenção, cuidado e carinho.

Como bem disse a mãe de Jenyfer: “Não tentem fazer como eu fiz. Dar tudo para o seu filho não supre a distância”.


(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga

Nenhum comentário:

Postar um comentário