A arte de seduzir


Frei Betto, escritor e assessor de movimentos sociais

Toda ditadura é megalômana. E a que governou o Brasil sob botas e fuzis, de 1964 a 1985, não foi diferente.


A construção da rodovia Transamazônica simboliza a arrogância do regime militar.
Rasgou-se a selva de leste a oeste. Abriu-se a estrada em paralelo a caudalosas vias fluviais. Em vez de aprimorar o sistema de navegação pelo rio Amazonas e seus afluentes, a ditadura preferiu obrigar a floresta a ajoelhar-se a seus pés. Possantes máquinas puseram abaixo árvores milenares encorpadas de madeiras nobres, destruíram ecossistemas preciosos, alteraram o equilíbrio ecológico da região.


Tudo em nome de uma palavra tão propalada e, no entanto, vazia de significado: desenvolvimento. Leia-se: exploração predatória da maior floresta tropical do mundo, aberta à voracidade de mineradoras, madeireiras e, sobretudo, do latifúndio predador, quase sempre movido a trabalho escravo.


"No meio do caminho havia uma pedra”, repetiria Drummond. Povos indígenas. Como impedir que oferecessem resistência? Simples: através da arte de seduzir. A Funai ergueu tapini (cabanas de folhas). Dentro, utensílios de caça e cozinha, ferramentas etc. Os índios, encantados com os objetos, acolhiam gentilmente os caras-pálidas. E ingenuamente eram cooptados pelas relações mercantilistas. Em troca de bugigangas perdiam saúde, terras, liberdade e vida.
Detalhe: o mato, não o gato, comeu a Transamazônica, fonte de riqueza e poder de umas tantas empreiteiras.


Hoje, os índios somos todos nós. Os tapini, os shopping, a publicidade, as veneráveis bugigangas que nos agregam valor. O inumano imprime sentido ao humano, como faziam os deuses de ouro denunciados pelos profetas bíblicos: tinham boca, mas não falavam; olhos, mas não viam; ouvidos, mas não escutavam; pés, mas não andavam...

Estamos todos somos sob o efeito hipnótico do consumismo. Não importa se o produto é frágil ou de má qualidade. Seu design nos cativa. Sua publicidade nos faz acreditar que estamos comprando a oitava maravilha do mundo! E, ingenuamente, que se trata de um produto durável, mesmo conscientes de que o capitalismo não se importa com o direito do consumidor, e sim com a margem de lucro do produtor.


Como se livrar do labirinto consumista que, na verdade, se consuma nos consumindo? Não vejo outra porta de saída fora da espiritualidade, somada a uma nova visão do mundo.


Sem espiritualidade corremos o risco – sobretudo os mais jovens – de dar importância àquilo que não tem. Imbuídos da baixa autoestima que nos incute a publicidade ("você não é ninguém porque não possui este carro, não veste esta roupa, não faz esta viagem...”) encaramos a mercadoria como algo que nos agrega valor. Não basta a camisa, a bolsa ou o tênis. Têm que ser de grife, com a etiqueta exibida do lado de fora.


Assim, todos à nossa volta haverão de reconhecer o nosso status. E quiçá invejar-nos. E aquele ser humano que, ao lado, carece de produtos refinados, é visto como não tendo nenhuma importância. Pois não se enquadra no atual princípio pós-cartesiano: "Consumo, logo existo.”


É espiritualizada toda pessoa cujo sentido de vida deita raízes em sua subjetividade e cujas opções são movidas por ideais altruístas. Ela não faz do que possui –conta bancária, títulos, casa, carro etc.– seu fator de autoestima. Sabe que tem valor em si, que não é nutrido pela posse de bens e sim por sua capacidade de fazer o bem aos outros. Sua autoestima se funda na generosidade, solidariedade e compaixão. Ela é feliz porque sabe fazer outras pessoas felizes.


O mercado tudo oferece. Todos os seus produtos nos chegam embrulhados em papel de presente: se compramos este carro, seremos felizes; se bebemos aquela cerveja, nos sentiremos alegres; se adquirimos tal roupa, ficaremos joviais. O único bem que o mercado jamais oferta é justamente este que mais buscamos: a felicidade. No máximo, o mercado tenta nos convencer de que a felicidade é o resultado da soma de prazeres.


Ora, a felicidade é um bem do espírito, jamais dos sentidos, da cobiça ou da arrogância. É feliz quem ousa destampar o próprio ego e conectar-se com o Transcendente, o próximo e a natureza. Esse irromper para fora de si mesmo tem nome: amor. E se manifesta nas dimensões pessoal, no dom de si ao outro, e na social, no empenho de construir um mundo melhor.

Frei Betto é escritor, autor de "Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org - twitter:@freibetto

Valor do professor

Por Júlio César

“Seja um professor”. É o que diz uma campanha do Ministério da Educação que procura atrair os jovens à carreira. O investimento na propaganda não é à toa. Há algumas décadas, o número de professores em sala de aula vem caindo. Ano passado, o MEC registrou um déficit de 240 mil professores, da 5a série ao Ensino Médio. A ausência desses profissionais é tão grande que a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo chegou a idealizar um projeto de recrutamento de alunos para dar aulas de matemática.

Enfim, não é preciso ser um expert no assunto para saber que a educação não é prioridade no Brasil. Lembrando que estamos falando de um país cuja economia é a oitava maior do mundo.

Em países pequenos que priorizam a educação, como Cingapura, a carreira de professor é mais do que almejada. Além de serem bem remunerados, os professores cingapurianos são reconhecidos pelo seu trabalho e os melhores chegam até a ser condecorados pelo presidente.

 E no Brasil, qual é o valor de um professor? Descobri ontem de manhã, quando li uma corrente intitulada ‘Troque um parlamentar por 344 professores’. Confiram abaixo:

“Sou professor de Física, de ensino médio de uma escola pública em uma cidade do interior da Bahia e gostaria de expor a você o meu salário bruto mensal: R$650,00. Eu fico com vergonha até de dizer, mas meu salário é R$650,00. Isso mesmo! E olha que eu ganho mais que outros colegas de profissão que não possuem um curso superior como eu e recebem minguados R$440,00. Será que alguém acha que, com um salário assim, a rede de ensino poderá contar com professores competentes e dispostos a ensinar? Não querendo generalizar, pois ainda existem bons professores lecionando, atualmente a regra é essa: O professor faz de conta que dá aula, o aluno faz de conta que aprende, o Governo faz de conta que paga e a escola aprova o aluno mal preparado. Incrível, mas é a pura verdade! Leciono porque sou um idealista e atualmente vejo a profissão como um trabalho social. Mas nessa semana, o soco que tomei na boca do estomago do meu idealismo foi duro! Descobri que um parlamentar brasileiro custa para o país R$10,2 milhões por ano… São os parlamentares mais caros do mundo. O minuto trabalhado aqui custa ao contribuinte R$11.545. Na Itália, são gastos com parlamentares R$3,9 milhões, na França, pouco mais de R$2,8 milhões, na Espanha, cada parlamentar custa por ano R$850 mil e na vizinha Argentina R$1,3 milhões. Trocando em miúdos, um parlamentar custa ao país, por baixo, 688 professores com curso superior ! Diante dos fatos, gostaria muito, amigo, que você divulgasse minha campanha, na qual o lema será: Troque um parlamentar por 344 professores.”

Na propaganda vinculada pelo MEC, além das clássicas imagens de crianças correndo em direção à escola e de alunos sorrindo em aula, faz-se uma pergunta muito pertinente: Qual o profissional responsável pelo desenvolvimento? Várias pessoas de diversas nacionalidades responderam a pergunta com a palavra “professor” em inglês, espanhol, francês, e outras línguas que são faladas nas outras 7 maiores economias do mundo. Pois é, mas ninguém respondeu à pergunta em português…


Julio César Cientista da Religião e Antropólogo


Música de Rubinho do Vale

Que é o Homem?



Por Júlio César  http://twitter.com/#!/jcientista

Homem – do latim homine significa qualquer indivíduo pertencente à espécie animal que apresenta maior grau de complexidade na escala evolutiva. (Aurélio) Antropologia física. Vertebrado, pertencente à classe dos Mamíferos, subclasse dos Placentários, ordem dos Primatas, família dos Hominídeos, gênero Homo, que se encontra representado na atualidade por uma única espécie, o Homo Sapiens Lin, com vários grupos, raças, sub-raças e tipos ou fácies locais.



Também se define como o único animal mamífero de posição normal ou vertical, capaz de linguagem articulada, constituindo entidade moral e social. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura) Há no homem três coisas: 1.º – o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2.º – a alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo; 3.º – o laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o espírito". (Kardec, 1995)

Os filósofos pré-socráticos tinham como objetivo a busca do princípio único, o arché de todas as coisas. As suas especulações voltavam-se para o Universo e o Cosmo.

Posteriormente surgiu Sócrates, que passou a inquirir sobre o próprio homem, no sentido de compreender o seu íntimo e o móvel de suas ações. O conhece-te a ti mesmo ou a autoconsciência do homem é o seu método de estudo.

Depois disso, os filósofos nunca mais pararam de questionar sobre o homem e sua função na sociedade. A filosofia, doravante tornou-se antropocêntrica, ou seja, colocou o homem no seu centro de discussão.

Pode-se dizer que a filosofia é uma forma de compreensão da vida e do mundo. Podemos especular sobre o mundo, sobre o ser, sobre a verdade e sobre a justiça; podemos perscrutar e elaborar análises sobre os mais variados temas; podemos tentar apreender o que é o bem e o que é mal. Contudo, no fundo de tudo isto está o homem.

Devíamos, assim, pedir à filosofia que nos ajude a compreender o mundo humano, apontando-nos os caminhos que possam nos afastar do mal.

Diante desta colocação filosófica, pergunta-se: Que é o homem? Qual sua função? Qual sua natureza? E seu destino? Há, sobre o homem, muitas denominações: Alto e baixo, feio e bonito, elegante e deselegante, gordo e magro. Humilde e orgulhoso, caridoso e egoísta, justo e injusto, virtuoso e viciado, bom e mau.

Homem econômico (Marx), Homem instintivo (Freud), Homem angustiado (Kierkegaard), Homem existente (Heidegger), Homem utópico (Bloch), Homem falível (Ricouer), Homem hermenêutico (Gadamer), Homem problemático (Marcel).

Do livro Gênesis, do Antigo Testamento, extraímos: 1) "E formou o Senhor Deus o homem do barro da terra, e inspirou no seu rosto o sopro da vida; e o homem tornou-se alma vivente"; 2) "Deus criou o homem à sua imagem e conforme a sua semelhança". O homem está no mundo, mas não é do mundo. Há a sua corporeidade, mas também a sua espiritualidade, que o faz transcender o mundo da matéria. Além de ser cultural, social, familial, o homem é único e uno.

À medida que o homem exercita sua inteligência, ela amplia-se. Do simples chegamos ao complexo; do conhecido ao desconhecido. Porém, surgem, também, os desmandos intelectuais, ou seja, o homem começa a se colocar acima do Criador, enveredando-se pela trilha do orgulho.

Nesse mister, o ser humano jamais deveria orgulhar-se da sua inteligência. Se Deus, na sua infinita bondade, concedeu-nos a oportunidade de renascermos num meio em que possamos desenvolver a nossa inteligência, é para que a utilizemos em nosso benefício e dos nossos semelhantes. A inteligência desenvolvida é um talento com finalidade útil nas mãos das criaturas, para que estas ajudem àqueles que têm uma inteligência menos desenvolvida, objetivando fazer com que se aproximem, cada vez mais, do Criador.

Julio César Cientista Religião e Antropólogo.

A ética e direitos humanos



A ética parte da história dos homens: nossas realizações, nossos desafios e nossas incoerências, sejam individuais ou coletivas. Tudo o que fazemos cotidianamente, acaba sendo marcado por regras implícitas, normas, referências, valores e princípios que são parte tácita do mundo e comunidade na qual estamos imersos. 
A reflexão sobre o comportamento ético, parte então deste contexto de vida -individual e coletivo -questionando princípios, valores, regras, etc., implícitos em nossas ações, bem como o reflexo destas ações sobre o mundo e nossos semelhantes. Logo, a ética julga as relações humanas, conforme seu contexto histórico. 
A formação de comportamentos éticos, independente da época, sempre foram essenciais para o convívio harmônico do ser humano, além do que, tal formação é cada vez mais um desafio arrojado diante da vulnerabilidade dos valores inerentes aos direitos humanos.
 A ética está acima da moralidade. Sua reflexão é a reflexão a respeito da moralidade. A moral possui caráter prático, imediato e restrito. Já a ética produz uma reflexão sobre a moral, procurando justificá-la, com o objetivo de orientar racionalmente as ações humanas.
 Desta feita, a ética e a moral são congruentes na medida em que apontam como finalidade a construção de um caráter íntegro para o homem, equivalente, portanto, às perspectivas dos Direitos Humanos. A moral está presente em nosso discurso, influenciando nossos juízos e opiniões. 
A ética reflete tais juízos avaliando efetivamente se são importantes e podem ser entendidos como uma boa conduta aplicável a todos os sujeitos, ou seja, se de caráter universal. A ética promove modificações na moral, universalmente falando, orientando de forma racional qual o melhor modo de vida humana. 
Sobre as aplicações práticas da ética na esfera pessoal e social, o exercício de colocar-se no lugar do outro antes de dar uma resposta, antes de julgar, antes de tomar uma decisão, é primordial e nos ajuda a ser coerentes e éticos, além de evitar desavenças ou injustiças. 
A frase: "faço assim porque quero" é famosa e bem freqüente aos nossos ouvidos. Mas, seremos verdadeiramente homens éticos e justos na medida em que colocarmos nossos desejos em um plano secundário, privilegiando o todo, o comum, o conjunto, onde, na verdade, sempre estivemos inseridos. 
Se os Direitos Humanos fundamentam-se na preservação da vida e sua integridade física, moral e social, e se para vivermos em plenitude é preciso usufruirmos do direito à liberdade, poderemos preservá-la somente respeitando nosso semelhante. Portanto, tudo o que viola a consecução normal da vida - sua liberdade, igualdade, etc. - transgride os direitos fundamentais que nada mais são do que o direito de ser, de ser diferente, de ter a liberdade e suas próprias crenças, de não sofrer a discriminação por credo, raça, gênero, condição social, opção sexual, etc. 
Daí as dificuldades no exercício do comportamento ético, devido ao egoísmo inerente ao caráter humano que nos abstrai da consciência coletiva e de respeito aos direitos de ser de outros de nós. 
OLIVEIRA (2004) fala um pouco sobre este egoísmo nato: Em suma, o desafio fundamental de nosso século apresenta como pressuposto básico a fundamentação de um horizonte de bens e valores éticos de maneira universal, superando condutas arrogantes, egoístas e facilmente corrompíveis. Um desafio coletivo, uma responsabilidade de cada cidadão, independente de condição social, raça, credo, idade, para que de fato afiancemos nossos ideais de um povo íntegro e de princípios humanistas. 

Julio César 
Pesquisador pelo Centro Universitário Claretiano e Professor na área de Ciências humana. 

CONCEITO, INTERAÇÃO E APLICABILIDADE DA FILOSOFIA EDUCACIONAL NOS PARÂMETROS ESCOLARES DE HOJE


Discutir a Filosofia da Educação é antes de tudo, uma questão conceitual. Ao nosso entender é inegável o uso do conceito como elemento básico para a obtenção do conhecimento, seja este inerente a qualquer domínio da ciência. Desta forma acreditamos que conhecer a Filosofia e conhecer a Educação são pressupostos básicos para se analisar as interações entre ambas.
   
Assim, este artigo vai analisar conceitualmente os domínios desta disciplina para em seguida buscar uma resposta mais ou menos segura para o questionamento: Em que a Filosofia contribui para a compreensão dos fenômenos educacionais?
         
É importante destacar ainda a estreita relação entre a Filosofia e o conhecimento. Antes de discutir a Educação, precisamos conhecer o processo de desenvolvimento do conhecimento a partir da Antiguidade Clássica, onde percebemos uma transformação da tradição oral à perspectiva de um conhecimento marcado pela escrita.
            
Estas observações tornam-se relevantes na medida em que o conhecimento é o próprio objeto da educação. Nas palavras de Paulo Freire tomamos ensinar como educar:

Para entendermos a Filosofia como teoria devemos antes buscar a etimologia da palavra teoria. Teoria vem do grego e quer dizer uma forma privilegiada de ver. Em linhas gerais podemos entender a teoria como o aspecto sob o qual uma coisa se apresenta e como a visão da verdade. O conhecimento baseado na teoria é o conhecimento a partir da experiência, daquilo que se vê, daquilo que se pode chamar de verdade.

Portanto o conhecimento é um elemento indissociável da Educação, principalmente ao constatarmos que o processo educacional visa a fornecer ferramentas necessárias à construção do saber.
           
E no sentido de cumprir esta função última, torna-se necessário articular os domínios desta disciplina, agregando meios de operacionalizá-la, onde o profissional ou educando da área possam discutir e aplicar da maneira mais completa possível os conceitos desenvolvidos neste domínio da prática pedagógica.

Julio César Cientista da Religião e Antropólogo
Twitter:@jcientista

Perguntas que sempre nos acompanha ao longo de nossa existência: De onde viemos? Onde estamos? Para onde vamos?


Estas são três perguntas que atravessam a vida da humanidade de todos os tempos. Estão ligadas ao nascer da Filosofia. Batem em nosso coração de tempos em tempos. Causam até hoje espanto.
         
O filósofo alemão M. Heidegger reduzia-as a uma pergunta ainda mais concisa, absolutamente fundamental. Por que existem as coisas e não o nada? Enfim, por que existimos? Por que estamos aqui?
         
Outro filósofo, também alemão, I. Kant fazia-se quatro perguntas em torno da mesma angústia existencial: Que posso conhecer? Como devo comportar-me? Que me é permitido esperar? Quem é o homem?
         
Acompanhados com filósofos de tamanho peso histórico, não é infantil que nos façamos hoje, mais uma vez, essas perguntas. O primeiro início de resposta podemos encontrar no maior filósofo de todos os tempos: Platão. É isso mesmo, lá de Atenas, na passagem do V para o IV século antes de Cristo, o discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, escrevia que no início de todo pensar está uma atitude de admiração.
         
O poeta alemão Goethe”, octogenário, no crepúsculo de sua existência, exclama: “Eis que existo para admirar! O grau supremo a que o homem pode chegar é a admiração”. O primeiro gesto de admiração é que existimos. Somos uma realidade e não ficamos perdidos eternamente na obscuridade total do nada.
         
Então, de onde viemos? Do Ser e não do nada. Onde moramos? Na casa do Ser, diria Heidegger. Para onde vamos? Para habitar junto ao Ser. Só que este Ser tem nome. Não é uma realidade diluída e obscura. É um mistério pessoal de infinita densidade. Aliás são três, para os cristãos: Pai, Filho e Espírito Santo. Trindade augusta da qual viemos, na qual habitamos e para a qual caminhamos. Por isso nossa vida toda ela tem sentido, tem beleza, mesmo na dor, no sofrimento, na escuridão.
         
De onde viemos? Da harmonia e não do ruído. Onde habitamos? Na música e não no barulho? Para onde caminhamos? Para a sinfonia, e não para a desafinação.


Julio César 
Cientista da Religião e Antropólogo.
Twitter: @jcientista

VIVO NA PIOR DAS GERAÇÕES

Por César Sampaio

“É na esperança que fomos salvos”. São Paulo.

É triste admitir que esta geração esteja perdendo certos valores que jogam ainda mais minha esperança em um lugar desconhecido. Digo desconhecido porque a esperança não é algo para se perder, porque senão deixa de ser esperança. Dependendo das situações, ela fica camuflada muito bem em nossa vida, ao ponto de acreditamos que as coisas nunca mudarão. Esperança vem de ESPERAR...
O agravante das relações vivenciadas por essa geração se dá pelo fato de ninguém ESPERAR mais nada.

Tudo está pronto, mastigado para todos.

A vida está como a lei que vigora nos programas da TV, “nada se cria tudo se copia” enquanto deveria ser com na lei da natureza, em que “nada se perde nada se cria, mas tudo se transforma”.
Esta geração se copia a imagem e semelhança das coisas fúteis e do modismo desenfreado. Modismo no sentido torpe da palavra mesmo. Nas duas últimas décadas foi maximizada a idéia que era moda, deixar de assistir jornal, ver BBB, ficar com 10, 15, até mais pessoas por noite, agora usar calças coloridas fazendo coraçãozinho, enquanto o essencial se perdia.

Geração do egoísmo, da falta de conteúdo, da intolerância e da total falta de respeito para com o próximo. O que se vê nessa geração são pessoas acomodadas, não lutam, não procuram conhecimento, não fazem nada além de olhar para o próprio umbigo. Ninguém mais se importa com o meio ambiente, ninguém mais dá valor à vida.

Os valores ficaram de lado. O futuro nas mãos de quem não conhecemos.
E mesmo assim, sabendo que este turbilhão de propostas acertou em cheio cada um, a pergunta ainda feita. De onde vem tanto desencantamento com a vida, a tristeza, medo, ignorância, insensatez, frieza, desamor, iniqüidade, etc e tal?

Acho que não preciso falar né!

Modelos errados formaram essas personalidades fracas.

E a esperança?
A resposta vem da Encíclica de Bento XVI. Spe Salvi

“A redenção nos é oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente” Bento XVI

Visite o blog de César Sampaio: http://cesarsampaiobio.blogspot.com/

Renda Básica de Cidadania. Uma luta pela dignidade e liberdade














Programas de transferência de renda devem ser vistos como um direito, e são modelos que podem resultar num programa mais amplo como a Renda Básica de Cidadania, aponta o senador Eduardo Suplicy (PT/SP)

Por: Graziela Wolfart e Patricia Fachin

“O Bolsa Família pode ser considerado um passo na direção da Renda Básica de Cidadania”, afirma o senador Eduardo Suplicy à IHU On-Line, por telefone. Autor da lei 10.835, que institui a Renda Básica de Cidadania, o senador acredita que a aplicação deve ser feita gradualmente, beneficiando, num primeiro momento, os mais necessitados até evoluir para todos os cidadãos. Segundo ele, a Renda Básica é um direito universal de todas as pessoas “participarem da riqueza da nação”. Na entrevista a seguir, ele destaca que a maior vantagem da Renda Básica “é justamente prover liberdade para todos, no sentido em que fala Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia de 1998”, isto quer dizer que “desenvolvimento deve significar maior grau de liberdade para a sociedade”.



Suplicy menciona ainda o exemplo do Alasca, único país do mundo a instituir a Renda Básica de Cidadania, como um modelo a ser seguido pelo Brasil. Ele conta que a iniciativa rendeu ao estado, depois de 27 anos, o título de estado mais igualitário dos 50 estados norte-americanos. “Hoje é considerado suicídio político para qualquer liderança política propor o fim do dividendo”, enfatiza.

Ética e Moral: qual a diferença?

Por Júlio César


Infelizmente, a etimologia não ajuda a diferenciar "ética" de "moral". Simplesmente a palavra grega ethos significa morada ou costume. A palavra latina equivalente émos, moris, que também significa morada, costume. Qualquer diferenciação entre ética e moral veio, portanto, do uso dessas palavras.

No âmbito filosófico, existe o costume (ethos) de definir bem os conceitos para melhor compreensão. Comicamente, esse costume também se aplica a esses termos relativos ao costume: moral significa um conjunto de normas e valores aceitos por um indivíduo ou grupo como corretos (ou seja, os deveres que nos impomos por considerá-los o certo a ser feito).  Ética  seria o estudo filosófico da moral, a busca pela fundamentação da moral, definir os critérios para decidir entre o certo e o errado. Difícil entender? Talvez alguns exemplos nos ajudem...

Uma pessoa que tenha pedido um livro emprestado a seu colega, depois de um tempo, vendo que seu colega não cobrou a devolução, decide ficar com o livro para si, ou vendê-lo ou dar a outra pessoa. Qualquer dessas ações seria considerada moralmente má para uma pessoa religiosa (pois fere o mandamento de não roubar), para uma pessoa que afirme o direito de propriedade privada, para alguém que entenda que violar uma lei (roubo é um crime previsto em lei) é sempre ruim ou para uma pessoa que pense que prejudicar alguém não está correto. 

Percebemos pessoas diferentes condenando o roubo por motivos diferentes. Cada pessoa ou grupo tem suas noções de certo e errado. Umas fundamentam-se na religião, outras no direito, outras nas leis e convenções, outras na regra de ouro. Temos, portanto uma gama variada de "morais", cada qual se fundamenta em noções diferentes de certo ou errado.

O filósofo que reflete sobre esse tema poderia levantar uma série de objeções a cada um dos critérios anteriores: se uma ação é boa porque Deus manda, então se Deus mandasse roubar seria justo fazê-lo? Qual a fundamentação racional para considerarmos a propriedade privada um direito inalienável? Será que todas as leis são justas? Em caso contrário, agir contra a lei não seria justo? A ética procura entender se existem razões válidas para definir algo como certo ou errado, se a religiosidade é um bom critério para definir o bem, se observância da lei garante uma ação moralmente boa e evita o mal, se podemos falar em direitos (e valores) universais. Como podemos notar, a ética é uma reflexão sobre a ação moral, sobre o que torna uma ação boa ou má. Por essa razão, muitos chamam a Ética de Filosofia Moral.

Seria uma tentação dizer nesse momento que enquanto falamos de várias "morais" só podemos falar em Ética no singular. Isso seria uma meia verdade: vários pensadores trataram da Ética em perspectivas diferentes (há portanto, muitas perspetivas éticas). Mas não seria falso afirmar que cada um dos sistemas éticos que já se teve notícia tentou abarcar a totalidade da ação moral. Tentou ser uma teoria geral da moral.

Para o desespero de todos aqueles que esperam do filósofo que fale de ética como alguém que "revela" os novos mandamentos (deveres) que devem ser observados nos tempos atuais, ele só pode levantar critérios racionais para ação moral (ou mostrar que certas regras não têm bons critérios). Nenhum filósofo se disporia a pensar no lugar dos outros e afirmar categoricamente o que deve ou não ser feito. Essa é uma tarefa para seres pensantes, que os filósofos esperam ainda existir por aí.




Email: jcesar2480@gmail.com

Papa incentiva uso das redes sociais


Bento XVI convida os cristãos a unir-se às redes sociais, em sua Mensagem para o 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que neste ano será comemorado em 5 de junho. O documento traz como título "Verdade, anúncio e autenticidade de vida, na era digital".


"Quero convidar os cristãos a unirem-se confiadamente e com criatividade consciente e responsável na rede de relações que a era digital tornou possível; e não simplesmente para satisfazer o desejo de estar presente, mas porque esta rede tornou-se parte integrante da vida humana", afirma o papa.

"Os crentes, testemunhando as suas convicções mais profundas, prestam uma preciosa contribuição para que a web não se torne um instrumento que reduza as pessoas a categorias, que procure manipulá-las emotivamente ou que permita aos poderosos monopolizar a opinião alheia", indica. 

O Pontífice dirige um convite especial aos jovens, para "fazerem bom uso da sua presença no areópago digital".


Autênticos e reflexivos

Bento XVI oferece diversas reflexões sobre a propagação da comunicação por meio da internet, seus potenciais, aplicações e riscos.
Destaca que, "também na era digital, cada um vê-se confrontado com a necessidade de ser pessoa autêntica e reflexiva". 

Socialismo e política social

Por Gilvan Rocha



O nível de confusão política, hoje, chegou a um patamar extremamente preocupante após esses noventa anos de hegemonia stalinista, tão pródigo em distorções, mitos, fantasias, ilusões e dogmas. Repare-se no costumeiro embaralhamento que se faz entre política social e socialismo. Recentemente conversando com um companheiro da velha-guarda, “marxista-leninista-trotskista” de quatro costados, em defesa do governo Lula, ele levantou o seguinte argumento: “Só sei que o povo está comendo três vezes por dia, está comprando e até andando de avião, coisas que não existiam nos governos anteriores e isso é um avanço”.



Observa-se nessa afirmação uma profunda confusão entre as chamadas políticas sociais que podem minimizar os efeitos da pobreza e o socialismo que objetiva construir a igualdade social. É de bom alvitre atentar para o fato de que o capitalismo sempre fez uso de políticas sociais em favor dos seus objetivos. O caso mais elucidativo é o dos chamados Estados de Bem Estar Social que criaram uma rede de proteção, de forma a diminuir a gravidade dos problemas produzidos pela desigualdade.

O significado da privatização



Por Paulo Daniel*


Discutir privatização pode parecer uma questão complexa, que está no cerne da doutrina neoliberal, diz respeito ao papel do Estado na economia. E que de certa maneira, ressurge com uma forte pauta nas eleições presidenciais deste ano.

É praticamente consensual que o Estado deve ser forte e ágil e não um big government paralisante, mas sua capacidade de intervenção e regulação eficientes não deveria desaparecer e sim, ao contrário, fortalecer-se para poder encaminhar reformas institucionais necessárias, tanto do mercado quanto do próprio Estado.
A partir dos anos 70, o Estado surge de vilão. Todos os males parecem poder ser resolvidos pela abertura da economia, pela diminuição do Estado e/ou pela contração de seus gastos. No coração do sistema, os Estados Unidos atacam de reaganomics e supply side economics; a Inglaterra vem com Mrs. Thatcher e suas privatizações; para o terceiro mundo reserva-se o Consenso de Washington.
No Brasil, na década de 70, o “milagre econômico” e o II PND pavimentaram o crescimento brasileiro, com forte participação do Estado via empresas estatais. Entretanto, a partir do final da década com a elevação das taxas de juros norte-americanas, a capacidade de investimento do setor público e privado, tornaram-se decrescentes.
A década de 80 brasileira tem uma preocupação principal; resolver a vulnerabilidade internacional que é a dívida externa, portanto, é a partir daí, tardiamente, que o Brasil inicia-se seu processo de liberalização e abertura econômica.
Nesse período, devido a escassez de crédito nacional, internacional e o alto volume da dívida externa brasileira as empresas nacionais e estatais vão perdendo a capacidade de investimento e inovação tecnológica, por conta disso, surge o centro do discurso neoliberal; o Estado e suas empresas são ineficientes. É fato, por uma razão simples, o Estado brasileiro naquele momento preferiu pagar a dívida externa, de acordo com a cartilha do FMI (Fundo Monetário Internacional) à continuar os investimentos em políticas de infraestrutura e social.
Na década de 90, com a eleição de Fernando Collor, inicia-se concretamente o processo de privatização brasileiro, mas é justamente com Fernando Henrique Cardoso que esse programa é intensificado, tanto é que “rendeu” aos cofres públicos entre 1995 a 2002 US$ 93 bilhões, nesse processo foram bancos como o Banerj e o Banespa, a Vale do Rio do Doce, a Usiminas, a CSN, o sistema de telecomunicações e elétrico.
A partir de 1994, o plano Real estrutura-se em um dos principais pilares; o ajuste fiscal, ou seja, privatização, enxugamento da máquina administrativa e redução dos gastos públicos, principalmente, em investimentos de infraestrutura, sucateando ainda mais o Estado brasileiro.
O Estado não sai de cena, apenas modifica sua agenda, consolida-se não mais como produtor de bens e serviços, mas sim, um Estado financeirizado, em que a lógica é dinheiro e mais dinheiro, sem passar pelas agruras do processo de produção.
Portanto, a lógica neoliberal, iniciada com Collor e consolidada com FHC, é o Estado não mais produzir para gerar emprego e renda e sim economizar (superávit primário e nominal) para pagamento de juros da dívida pública, ou seja, venderam o patrimônio do povo brasileiro, financiado pelo BNDES, que ainda é patrimônio de todos nós, pois sua maior fonte de receita advém do PIS e PASEP.
O processo de privatização brasileiro, como em qualquer país da América Latina, representou e representa concentração de renda e riqueza, desnacionalização de nossas empresas, redução e má qualidade dos serviços prestados; uma comprovação disso, basta observar o sistema de telecomunicações brasileiro, o gasto em telefonia praticamente triplicou entre 98 e 2010, as tarifas de energia elétrica sobem sempre acima da inflação e as rodovias, principalmente as paulistas, a cada dia com mais pedágios e cada vez mais caros.
Entender a lógica e o significado da privatização é entender o debate presidencial travado nesse 2º.turno. Que papel as empresas estatais brasileiras terão no desenvolvimento brasileiro? O Estado manterá a lógica de superavits primários elevados? Esse é justamente alguns dos pontos que as candidaturas à Presidência da República se diferenciam.
Nesse momento de crise internacional, o candidato que ainda insistir em privatizar ou até mesmo defender a privatização brasileira, estará remando contra a maré do próprio sistema capitalista atual, talvez ainda não tenha entendido, ou não quer entender, o conselho de um prêmio Nobel de economia Paul Krugman em que diz; “a difundida crença de que as reformas voltadas para a abertura das economias e a liberação dos mercados produzirá uma dramática aceleração no crescimento dos países em desenvolvimento representa um salto no escuro e um ato de fé.”


Fonte: http://www.cartacapital.com.br/economia/o-significado-da-privatizacao

É possível ter ética na política?


Política com P maiúsculo é mais do que política partidária. Todos nós, consciente ou inconscientemente, voluntária ou involuntariamente, fazemos política. Política é como respiração. Não dá para viver sem respirar, como não dá para conviver sem fazer política. Optamos o tempo todo, escolhendo ou rejeitando as coisas. Estamos no meio de uma crise global e plural: política, econômica, ecológica, ética, civilizacional, das instituições etc. O redemoinho que nos envolve é grande. Urge recriarmos um modelo de convivência social e ecológica com relações éticas e estruturas de fraternidade.

A importância das instituições

Decisivo para a ética na política não é simplesmente a ética privada dos governantes, mas o tipo de instituição política, da qual dependem os cidadãos para ter acesso aos direitos que devem ser universais.

A convivência social exige a existência de instituições políticas, criadas para organizar e gerenciar as relações humanas nas sociedades mais complexas. As instituições políticas, assim como toda instituição, têm um começo muitas vezes libertador. Todavia, com o passar do tempo, vão se enrijecendo e afastando-se de seus princípios e inspirações originais. É o que acontece com as instituições políticas também, salvo exceções.

Há questões de fundo que solapam as instituições políticas. Em nível institucional, por exemplo, o financiamento privado das campanhas eleitorais; em nível de relações humanas (ética), a perda de valores morais, a incapacidade de confiarmos na nossa capacidade de resolver socialmente nossos problemas, o que nos faz transferir para salvadores da pátria essa tarefa. Isso se sente na burocracia, na acomodação e no corporativismo do funcionalismo público, na desvalorização da experiência histórica, no consumo exacerbado, no individualismo, na absolutização da tecnologia (“o sistema não permite”, “tenho que seguir ordens/leis”), no descaso com os empobrecidos e na banalização do sofrimento. O caos nos serviços públicos - SUS, escolas públicas e órgãos públicos - é tão grande que passa a ser considerado natural esperar indefinidamente numa fila que não anda.

Mudar com ética?

Aqui, optamos por entender ética como um jeito de conviver que encarna a regra de ouro: “Não faça aos outros aquilo que não quer que lhe seja feito”. Ou seja, mais do que um pensar ético, um agir ético é imprescindível para realizarmos o desafio de transfigurar as instituições e pessoas políticas.

Quatro pontos são imprescindíveis para um agir ético de forma a contribuir para o processo de transfiguração das instituições políticas. Pensar e agir:

a) a partir do empobrecido. Karl Marx dizia que “o lugar social determina o lugar epistemológico”, ou seja, nossos olhos, em última instância, não estão no nosso rosto, mas nos nossos pés. Pensar e agir a partir do empobrecido, do enfraquecido, do pequeno é encarnar a regra de ouro.

b) de forma coletiva e participativa. Ninguém é salvador da pátria, nem dono da verdade. Deve ser uma busca conjunta. Envolver a todos na participação é vital. Discernir em mutirão a partir dos últimos.

c) a partir de toda a biodiversidade. Superar assim o antropocentrismo, que considera o ser humano como o centro/rei da criação. Não é. Hoje, sabemos que todos os seres vivos - terra, água e toda a biodiversidade - integram a mesma comunidade de vida. Nós, os humanos, dependemos de todos os outros seres.

d) a partir de um modelo econômico justo e sustentável ecologicamente. Isso implica elevar a Economia Popular Solidária ao status de política econômica de Estado e coluna mestra da sociedade. Ser vassalo da idolatria do mercado e do capital é algo imoral e só aprofunda a crise das instituições políticas.

Enfim, intuo que devemos dedicar 10% das nossas energias para tentarmos eleger os melhores políticos, aqueles que por vocação aceitam o pedido do povo para exercer mandatos. E devemos dedicar 90% das nossas energias na construção de movimentos populares autênticos que orientem a indignação dos pobres frente a tantas injustiças.


Questões para Debate

1 - Na escola, como poderia acontecer um processo de sustentabilidade?

2 - Que características seriam necessárias para uma empresa ser ética e ao mesmo tempo responsável pelo meio ambiente?

3 - Como consumidores, qual deve ser a relação com os produtos que consumimos?

Gilvander Luís Moreira,

frei e padre carmelita, mestre em Exegese Bíblica, assessor da CPT, CEBI, CEBs, SAB e Via Campesina.

Endereço eletrônico: gilvander@igrejadocarmo.com.br


Artigo publicado na edição nº 405, jornal Mundo Jovem, abril de 2010, página 8
 

Por que participar da política?

Por Plínio de Arruda Sampaio 

 Nove entre dez jovens consideram a política uma atividade para espertalhões que ganham uma fortuna para enganar o povo. Eles não deixam de ter alguma razão. De fato, pode-se contar nos dedos os políticos que se devotam realmente ao serviço do povo. A reação normal de quem tem essa visão negativa da política é ficar fora dela. No máximo comparecer para votar, uma vez que o voto é obrigatório. Apertou o botão da urna eletrônica, tchau! Sair voando sem saber até o nome do candidato em quem votou. Esta atitude é a que mais interessa aos malandros da política, pois o desinteresse leva à ignorância política e esta é um prato feito para quem deseja praticar falcatruas com o mandato popular. 

 Nestas alturas, sei que o jovem leitor está me questionando: “OK. Você diz que eu devo me interessar pela política. Mas o que eu perco não tendo o menor interesse por ela?”. Boa pergunta, que merece uma resposta por partes: quem são os políticos; o que fazem; como os safados prejudicam os cidadãos; como se pode evitar isso. 

 Quem são os políticos? 

A palavra político, na linguagem comum das pessoas, designa os homens e as mulheres que ocupam cargos no Estado: vereadores, deputados, senadores, secretários de estado, ministros, governadores e Presidente da República. Essas pessoas - são milhares delas em todo o Brasil - têm o poder de influenciar na atuação dos órgãos do estado brasileiro. Participam da elaboração das leis; da distribuição do dinheiro arrecadado com os impostos; da gestão das empresas do Estado; da fiscalização do funcionamento das repartições públicas que prestam serviço à população (SUS, hospitais públicos, delegacias de polícia etc.). 

 Suspenda agora a leitura do texto e veja se consegue identificar uma única atividade da sua vida inteiramente fora do âmbito da política. Não me venha com o argumento de que o Estado não interfere na sua fé religiosa, nas suas leituras, no seu pensamento. Interfere e muito. O Estado tem uma delegacia para fiscalizar os cultos religiosos, e outra para manter a ordem política e social - esses órgãos acompanham a atividade de padres, freiras, pastores, pais e mães de santo, militantes de pastorais etc. E abrem processos contra aqueles cuja pregação afeta a ordem estabelecida. Além disso, o Estado censura livros; peças de teatro; filmes. E fixa, através de suas políticas econômicas, o preço desses produtos. Quantas vezes você quis ler um livro, assistir a uma peça teatral e não pôde por causa do preço? 

 Finalmente, não é exato que você tenha uma liberdade absoluta de pensar. Você pensa com a informação que chega ao seu cérebro. Ora, é o Estado que controla - às vezes abertamente, às vezes indiretamente - toda a informação que chega até você.


Estar junto para entender 


Não tenha, pois, nenhuma dúvida: você perde muito, direta ou indiretamente, quando o Estado está nas mãos de pessoas incompetentes ou desonestas, pois, de algum modo, você está sendo prejudicado. Daí a necessidade de interessar-se pela política, de aprender o suficiente para entender como ela funciona e de tomar parte efetiva na escolha dos governantes. 

 Não é fácil atender a essa necessidade. A política é uma atividade bem complicada e quem participa dela sem o conhecimento adequado corre sério risco de ser enganado. Por isso o primeiro passo para participar consiste em entender seu funcionamento. 

 Ninguém consegue entender de política sozinho. Não adianta ler jornais e acompanhar os noticiários e comentários da rádio ou televisão. São todos enviezados. O jeito é formar um grupo para ampliar as fontes de informação e para dispor de opiniões diversas a respeito do significado das informações recebidas. 

O grupo não irá muito além das pernas se não se dedicar à leitura de livros teóricos que explicam o funcionamento da sociedade e, portanto, dos partidos políticos. É através da leitura desses livros que você aprenderá a distinguir os políticos fisiológicos (que buscam apenas satisfazer seus apetites por dinheiro, prestígio ou poder) e os políticos ideológicos (os que fazem política por convicção). Conhecendo as ideologias, você pode optar pela que mais se aproxima dos valores que considera importantes. Isso lhe fornecerá um critério para participar inteligentemente do processo político.




Plínio Arruda Sampaio,
político, dirigente do Programa da Terra (Proter), São Paulo, SP.
Endereço eletrônico: pliniosampaio@cidadania.org.br
Artigo publicado na edição nº 406, jornal Mundo Jovem, maio de 2010, página 5.

Humberto Gessinger dá show ao vivo no Twittican 11/1/2011

Essa é para quem perdeu o show do Gessinger por algum motivo, inclusive pela internet lenta. Gessinger deu esse presente aos fãs em decorrência da comemoração pelos 26 anos dos Engenheiros do Hawaii. Confira tudo que rolou aqui:

Brasil exporta escravos para mercado do sexo

A dura realidade dos jovens brasileiros que são vítimas do tráfico internacional para exploração sexual na Europa.
Por Júnea Assir

Madri (Espanha) – Para a ONU, o tráfico de pessoas é uma forma moderna de escravidão, e, pelas estimativas da própria organização, mais de 2 milhões de pessoas são vítimas do tráfico
humano a cada ano. 

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, dentro desta estatística quase 1 milhão de pessoas são traficadas no mundo, anualmente, com a finalidade de exploração sexual, sendo que 98% são mulheres, comércio que movimenta 32 bilhões de dólares por ano. Atualmente, uma das atividades criminosas mais lucrativas, uma verdadeira mina de ouro já que o investimento é quase zero, no caso dos trabalhos de uma vítima de exploração sexual, o serviço será vendido várias vezes por dia. O maior destino destes jovens é a Europa Mediterrânea, encabeçado por Espanha, seguido por Portugal e Itália, grandes receptores desta mercadoria brasileira.

Quase todas as vítimas têm um perfil similar: jovens ilusionados em mudar de vida, com precária situação econômica, pouca ou nehuma formação escolar, desempregados, vivenciando a falta de oportunidades e com idade entre 18 e 30 anos. Muitos vivem em zonas rurais muito pobres. A operação começa pelo aliciamento das vítimas, falsas ofertas de trabalho no exterior, promessas de um futuro promissor. Alguns são atraídos para trabalhar como modelos, dançarinos, em hotelaria, ou mesmo no labor doméstico em casas de famílias.
Muitos sabem que vão trabalhar na prostituição, mas não imaginam em que condições, idealizam uma liberdade e uma cumplicidade entre companheiros, que não existe.

Em muitos casos, a captação é realizada por conhecidos, às vezes por gente da própria família, outras por pessoas que exerceram a prostituição e agora recebem comissões da organização. Como se trata de outro país, a quadrilha geralmente organiza toda papelada necessária como passaporte e papéis essenciais para entrar no território escolhido. Também se responsabilizam pela compra do bilhete de viagem, momento em que automaticamente a vítima dá início à sua dívida.

Os aliciados recebem instruções de como se vestir e atuar perante as autoridades do setor de
imigração. Alguns grupos fazem escala em outros países do território Schengen, como França, para evitar, por exemplo, voos direto à Espanha. Os controles de imigração de Paris relaxam se o destino final não é o próprio país. Algumas pessoas viajam na companhia de integrantes do grupo que os ajudam nos controles alfandegários, em outras situações são recebidos no destino final, automaticamente retirando-lhes toda documentação e dinheiro que previamente receberam para ensinar ao controle de imigração do país.
Neste momento, passam a entender que o paraíso não existe, e, no caminho para o inferno, local onde vão permanecer e prostituir-se, começa a demonstração de poder: ameaça física e moral, fundamentados na vulnerabilidade dos novos prisioneiros. Em cárcere privado são submetidos à vexação como usar roupas íntimas e sensuais. Se há resistência por parte da pessoa, seguramente sofrerá coação, ou até ameaças à própria família que está no Brasil, mas que supostamente observada por algum integrante do bando. São severos os meios de controles, como trancafiamentos em pequenos quartos ou vigilância por circuitos de videocâmaras, até brutais agressões. Em saunas, bares, apartamentos, ou vias públicas, as vítimas deste tráfico são exploradas em diferentes pontos, na maior parte não sabem nem onde estão.

Rede de mulheres

Na Espanha, a prostituição está perfeitamente integrada dentro de um ambiente urbano. Periodicamente, são feitas mudança de endereço, para que ninguém se acostume com a zona, ou possa estreitar relações com os clientes mais habituais. Cada passo é bem planejado para não deixar vestígio e para tirar melhor proveito da situação. Às vezes, fazem o traslado da jovem coincidindo com o período menstrual para otimizar seu rendimento. Importante membro das redes são as “Mamis” ou controladoras, que vigiam as vítimas, neste caso, predominantemente mulheres. Ficam ao seu lado quase todo tempo e encarregam-se de que não escapem e para tranquilizá-las e fazê-las pensar que a circunstância não é a pior.

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