Dilma: garantir conquistas e consolidar avanços

Por Leonardo Boff

O Brasil já deixou de “estar deitado eternamente em berço esplêndido”.

Nos últimos anos, particularmente sob a administração do Presidente Lula, conheceu transformações inéditas em nossa história. Elas se derivaram de um projeto político que decide colocar a nação acima do mercado, que concede centralidade ao social-popular, conseguindo integrar milhões e milhões de pessoas, antes condenadas à exclusão e a morrer antes do tempo.

Apesar dos constrangimentos que teve que assumir da macroeconomia neoliberal, não se submeteu aos ditames vindos do FMI, do Banco Mundial e de outras instâncias que comandam o curso da globalização econômica. Abriu um caminho próprio, tão sustentável que enfrentou com sucesso a profunda crise econômico-financeira que dizimou as economias centrais e que devido à escassez crescente de bens e serviços naturais e ao aquecimento global está pondo em xeque a própria reprodução do sistema do capital.

O governo Lula realizou a revolução brasileira no sentido de Caio Prado Jr. no seu clássico A Revolução Brasileira (1966):”Transformações capazes de reestruturarem a vida de um pais de maneira consentânea com suas necessidades mais gerais e profundas, e as aspirações da grande massa de sua população…algo que leve a vida do país por um novo rumo".

As transformações ocorreram, as necessidades mais gerais de comer, morar, trabalhar, estudar e ter luz e saúde foram, em grande parte, realizadas. Rasgou-se um novo rumo ao nosso pais, rumo que confere dignidade sempre negada às grandes maiorias. Lula nunca traiu sua promessa de erradicar a fome e de colocar o acento no social. Sua ação foi tão impactante que foi considerado uma das grandes lideranças mundiais.



Esse inestimável legado não pode ser posto em risco. Apesar dos erros e desvios ocorridos durante seu governo, que importa reconhecer, corrigir e punir, as transformações devem ser consolidadas e completadas. Esse é o significado maior da vitória da candidata Dilma que é portadora das qualidades necessárias para esse “fazimento”continuado do novo Brasil.



Para isso é importante derrotar o candidato da oposição José Serra. Ele representa outro projeto de Brasil que vem do passado, se reveste de belas palavras e de propostas ilusórias mas que fundamentalmente é neoliberal e não-popular e que se propõe privatizar e debilitar o Estado para permitir atuação livre do capital privado nacional, articulado com o mundial.



Os ideólogos do PSDB que sustentam Serra consideram como irreversível o processo de globalização pela via do mercado, apesar de estar em crise. Dizem, nele devemos nos inserir, mesmo que seja de forma subalterna. Caso contrário, pensam eles, seremos condenados à irrelevância histórica. Isso aparece claramente quando Serra aborda a política externa. Explicitamente se alinha às potências centrais, imperialistas e militaristas que persistem no uso da violência para resolver os problemas mundiais, ridicularizando o intento do Presidente Lula de fundar uma nova diplomacia baseada no dialogo e na negociação sincera na base do ganha-ganha.



O destino do Brasil, dentro desta opção, está mais pendente das megaforças que controlam o mercado mundial do que das decisões políticas dos brasileiros. A autonomia do Brasil com um projeto próprio de nação, que pode ajudar a humanidade, atribulada por tantos riscos, a encontrar um novo rumo salvador, está totalmente ausente em seu discurso.



Esse projeto neoliberal, triunfante nos 8 anos sob Fernando Henrique Cardoso, realizou feitos importantes, especialmente, na estabilização econômica. Mas fez políticas pobres para os pobre e ricas para os ricos. As políticas sociais não passavam de migalhas. Os portadores do projeto neoliberal são setores ligados ao agronegócio de exportação, as elites econômico-financeiras, modernas no estilo de vida mas conservadores no pensamento, os representantes das multinacionais, sediadas em nosso pais e as forças políticas da modernização tecnológica sem transformações sociais.



Votar em Dilma é garantir as conquistas feitas em favor das grandes maiorias e consolidar um Estado, cuja Presidenta saberá cuidar do povo, pois é da essência do feminino cuidar e proteger a vida em todas as suas formas.

Leonardo Boff

Lula não entende nada!




















Lula, que não entende de sociologia,

levou 32 milhões de miseráveis e pobres

à condição de consumidores;

e que também não entende de economia;

pagou as contas de FHC,

zerou a dívida com o FMI e

ainda empresta algum aos ricos;

Lula, o analfabeto, que não entende de educação, criou mais escolas e universidades que seus antecessores juntos [14 universidades públicas e estendeu mais de 40 campi],

e ainda criou o PRÓ-UNI,

que leva o filho do pobre à universidade

[meio milhão de bolsa para pobres

em escolas particulares].



Lula, que não entende de finanças

nem de contas públicas,

elevou o salário mínimo de

64 para mais de 291 dólares [valores de

janeiro de 2010], e não quebrou a previdência como queria FHC.


Lula, que não entende de psicologia,

levantou o moral da nação e disse que o

Brasil está melhor que o mundo.

Embora o PIG-Partido da Imprensa Golpista, que entende de tudo, diga que não.



Lula, que não entende de engenharia,

nem de mecânica,

nem de nada,

reabilitou o Proálcool,

acreditou no biodiesel e levou o país

à liderança mundial de combustíveis renováveis [maior programa de energia alternativa ao petróleo do planeta].



Lula, que não entende de política,

mudou os paradigmas mundiais e

colocou o Brasil na liderança

dos países emergentes,

passou a ser respeitado

e enterrou o G-8 [criou o G-20].



Lula, que não entende de política externa nem de

conciliação, pois foi sindicalista brucutu; mandou às favas a ALCA, olhou para os parceiros do sul, especialmente para os vizinhos

da América Latina, onde exerce

liderança absoluta sem ser imperialista.

Tem fácil trânsito junto a Chaves, Fidel, Obama, Evo etc.

Bobo que é, cedeu a tudo e a todos.



Lula, que não entende de

mulher nem de negro,

colocou o primeiro negro no Supremo

(desmoralizado por brancos) e

uma mulher no cargo de primeira ministra,

e que pode inclusive, fazê-la sua sucessora.



Lula, que não entende de etiqueta,

sentou ao lado da rainha (a convite dela) e afrontou nossa fidalguia branca de lentes azuis.



Lula, que não entende de desenvolvimento,

nunca ouviu falar de Keynes, criou o PAC;

antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é

hora de o Estado investir;

hoje o PAC é um amortecedor da crise.



Lula, que não entende de crise,

mandou baixar o IPI e levou a

indústria automobilística a

bater recorde no trimestre

[como também na linha branca de eletrodomésticos].



Lula, que não entende de português

nem de outra língua, tem fluência entre

os líderes mundiais;

é respeitado e citado entre as pessoas mais poderosas e influentes no mundo atual

[o melhor do mundo para o Le Monde, Times, News Week, Financial Times e outros...].



Lula, que não entende de respeito a seus pares,

pois é um brucutu,

já tinha empatia e relação direta com George Bush -

notada até pela imprensa americana -

e agora tem a mesma empatia com Barack Obama.



Lula, que não entende nada de sindicato,

pois era apenas um agitador...

é amigo do tal John Sweeny

[presidente da AFL-CIO -

American Federation Labor-Central

Industrial Congres - a central de trabalhadores dos Estados Unidos, que lá sim, é única...]

e entra na Casa Branca com credencial de negociador e fala direto com o Tio Sam lá, nos "States".



Lula, que não entende de geografia,

pois não sabe interpretar um mapa

é autor da maior mudança geopolítica

das Américas na história.



Lula, que não entende nada de diplomacia internacional, pois nunca estará preparado,

age com sabedoria em todas as frentes e se

torna interlocutor universal.



Lula, que não entende nada de história,

pois é apenas um locutor de bravatas;

faz história e será lembrado por um grande

legado, dentro e fora do Brasil.



Lula, que não entende nada de

conflitos armados nem de guerra,

pois é um pacifista ingênuo,

já é cotado pelos palestinos para

dialogar com Israel.

Lula, que não entende nada de nada...

é bem melhor que todos os outros...!





Pedro Lima *

Imagens valem mais do que palavras...








O direito de sonhar - Eduardo Galeano
















Sonhar não faz parte dos trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram no final de 1948. Mas, se não fosse por causa do direito de sonhar e pela água que dele jorra, a maior parte dos direitos morreria de sede.

Deliremos, pois, por um instante.

Nas ruas e avenidas, carros vão ser atropelados por cachorros.

O povo não será guiado pelos carros, nem programado pelo computador, nem comprado pelo supermercado, nem visto pela TV.

A TV vai deixar de ser o mais importante membro da família, para ser tratada como um ferro de passar ou uma máquina de lavar roupas.

Vamos trabalhar para viver, em vez de viver para trabalhar.

Os economistas não chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem de qualidade de vida a quantidade de coisas.

Os políticos não vão mais acreditar que os pobres gostem de encher a barriga de promessas.

O mundo não vai estar mais em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza.

E a indústria militar não vai ter outra saída senão declarar falência, para sempre.

Ninguém vai morrer de fome, porque não haverá ninguém morrendo de indigestão.

Os meninos de rua não vão ser tratados como se fossem lixo, porque não vão existir meninos de rua.

Os meninos ricos não vão ser tratados como se fossem dinheiro, porque não vão existir meninos ricos.

A educação não vai ser um privilégio de quem pode pagar por ela.

A polícia não vai ser a maldição de quem não pode comprá-la.
Justiça e liberdade, gêmeas siamesas condenadas a viver separadas, vão estar de novo unidas, bem juntinhas, ombro a ombro.


(Eduardo Galeano)

Democracia, uma lição que precisamos aprender

É nosso desafio afirmar a democracia, tanto a representativa (que, apesar de tantas decepções, ainda merece nosso voto e nossa consciência) quanto a democracia direta, através da nossa participação e do apoio aos movimentos sociais organizados. Sobre este tema da nossa cidadania, conversamos com Ana Maria Prestes Rabelo.

Mundo Jovem: A democracia representativa e formal fracassou? É insuficiente?

Ana Maria Prestes: A democracia representativa é fruto de uma concepção liberal que sempre teve como objetivo manter o poder político nas mãos das elites e pouco acessível à maioria da população. Como ideário, ela não fracassou, visto que se espalhou como modelo hegemônico e tem sido utilizada como mote para justificar as campanhas belicistas do imperialismo no período recente. Por outro lado, sua insuficiência é flagrante e muitas têm sido as iniciativas de introduzir elementos de democracia direta, deliberativa e participativa nos países que conseguem projetar programas alternativos ao liberalismo em seus governos.



A questão fundamental é que ao mesmo tempo em que o mundo vive a difusão do modelo liberal de democracia representativa, apresentada pela globalização hegemônica como a melhor forma de organização das sociedades humanas, as pessoas se veem cada vez mais afastadas da possibilidade de opinar e influir em decisões que atingem diretamente suas vidas. O vácuo, ou o déficit democrático criado entre o que se discute e aprova nos encontros multilaterais ou globais, por exemplo, e o entendimento e a opinião dos cidadãos nacionais sobre tais decisões, gerou um espaço político a ser preenchido. Esta foi uma condição essencial para o surgimento de encontros como o Fórum Social Mundial.



Mundo Jovem: Qual o papel e a importância dos movimentos sociais para a democracia?

Ana Maria Prestes: Os movimentos sociais (grupos, associações e organizações não governamentais que se articulam coletivamente em torno de uma luta específica) ajudam a demonstrar os pontos falhos da democracia representativa de modelo elitista que cirscunscreve a participação política ao processo de votação eleitoral. No período que separa uma eleição da outra, a maioria da população fica privada de interferir no andamento das políticas públicas e é exatamente através dos movimentos sociais que as demandas vão surgir e se expressar para o conjunto da sociedade.



Movimentos sociais fortes são fundamentais para que as decisões políticas sejam mais democráticas e tenham consonância com as demandas sociais. A cultura do associativismo e da solidariedade social presente nos movimentos sociais é fundamental para pressionar a ampliação do espaço público nas democracias liberais que tendem à privatização do Estado e do escopo de atuação civil. No Brasil, os movimentos sociais tiveram, no período recente, um papel importantíssimo no estabelecimento de novas relações entre o Estado e a sociedade no que tange, por exemplo, às relações de gênero, etnia, uso do espaço público e vários outros aspectos que democratizam esta relação.



Mundo Jovem: Onde começa e como deve acontecer o estímulo e a formação para a participação cidadã?

Ana Maria Prestes: De preferência o mais cedo possível. Na família, na escola, nas primeiras experiências de relações sociais das crianças e dos jovens. O Estado precisa estar aberto à participação cidadã, as escolas devem estar preparadas para formar as crianças e os jovens em uma cultura participativa e a sociedade deve praticar esta cultura de forma ativa. As pessoas participam se percebem que há sentido nesta participação, que sua ação interfere na dinâmica social, e este é um bom termômetro do grau de democracia das sociedades.



Mundo Jovem: Em que setores a população brasileira se organiza? Que experiências são mais significativas?

Ana Maria Prestes: A sociedade brasileira tem uma história muito rica de organização e luta. Desde as lutas abolicionistas às recentes mobilizações para a democratização da mídia. O Brasil é referência mundial em organização pela reforma agrária, pelos direitos das mulheres, pelo fim da discriminação racial, pelos direitos da juventude e dos estudantes, pelo direito à moradia, pela ampla justiça social. No período recente, nosso país também se tornou referência pela implementação de alguns mecanismos de democracia participativa e deliberativa, como os orçamentos participativos, o funcionamento de conselhos setoriais e a realização de conferências temáticas.



Mundo Jovem: Por que a participação social é tão pequena? Falta envolvimento mais massivo?

Ana Maria Prestes: De fato falta um envolvimento mais massivo, mas a questão é que as formas de participação social também mudaram. As maiores mobilizações antiglobalização neoliberal foram organizadas por internet e mensagens de celular. Isso demonstra uma mudança no padrão de participação e envolvimento em campanhas, especialmente dos jovens. As pessoas só participam daquilo que faz algum sentido para elas. É por isso que os setores que mais mobilizam são os que apresentam maior déficit de resposta do poder público. Ao mesmo tempo, as pessoas têm sido estimuladas a práticas cada vez mais individualizadas. As ações coletivas são tachadas como perda de tempo e energia, a concepção liberal que ainda viceja na nossa sociedade prega as conquistas pelo esforço individual e, invariavelmente, com prejuízo da conquista do outro. As conquistas coletivas são vistas como práticas ultrapassadas e antiquadas. O mérito está em vencer sozinho e de preferência desqualificando os demais.



Mundo Jovem: A experiência dos fóruns sociais mundiais (FSM) contribui para o avanço da democracia?

Ana Maria Prestes: Certamente. Os primeiros FSM, realizados em Porto Alegre, ampliaram para o mundo o exemplo de uma experiência importante de democracia participativa, que é o orçamento participativo. O acesso a esta experiência levou o debate sobre modelos de democracia participativa para vários países do mundo. Por outro lado, a própria existência do FSM é um questionamento à validade das decisões tomadas em âmbito transnacional sem consulta às populações nacionais. É um questionamento à democracia na era da globalização.



O FSM nasce em um momento em que os estados nacionais, de uma forma geral, sofrem uma influência cada vez maior da colaboração internacional em áreas essenciais, como defesa ou comunicação, e do aumento da integração política com outros estados através da consolidação de novos corpos políticos, como a União Europeia ou a OMC. Essa situação, ao mesmo tempo em que amplia a atuação do Estado na arena internacional, limita seu poder de ação interna e seu poder de dar respostas, oportunamente ou não, às demandas sociais nacionais. O FSM abre uma série de discussões sobre os procedimentos democráticos do século 21 e de um novo tipo de participação política de cidadãos e organizações antes restritos à atuação local.



Mundo Jovem: Vivemos um tempo de restrição/criminalização dos movimentos sociais. Por quê? A quem interessa?

Ana Maria Prestes: Após um período de descenso dos movimentos, especialmente no pósqueda do Leste Europeu e apogeu do neoliberalismo, os movimentos sociais voltaram à cena. Com esse retorno, surgiram eventos importantes como a derrota da rodada do milênio da OMC em Seattle (em 1999), o Fórum Social Mundial e uma importante aliança entre movimentos e governos progressistas em vários países da América Latina, o que atingiu em cheio a hegemonia imperialista norte-americana. A criminalização dos movimentos sociais vem como uma resposta dos setores que perderam espaço com este ascenso dos movimentos sociais e de um ideário antineoliberal. Ela vem também após o 11 de setembro e com os dois governos da era Bush, que associaram qualquer tipo de manifestação política antineoliberal a práticas terroristas, na busca de justificar a ofensiva aos movimentos. No Brasil, nos últimos anos, foi flagrante a ostensiva criminalização dos movimentos sociais no sul do país, em particular no Rio Grande do Sul, com a ação do governo em defesa das empr sas de celulose e em prejuízo dos movimentos pela reforma agrária e ambientais.



Mundo Jovem: A escola poderia capacitar os jovens para a participação? Como poderia fazer?

Ana Maria Prestes: Não só poderia, como deveria. O ambiente escolar é o ideal para iniciar os jovens nas discussões sobre os procedimentos de tomada de decisão de forma democrática em todos os âmbitos da vida, não somente no político. A democracia não deve ser ensinada apenas em disciplinas específicas como a Sociologia ou a História, mas vivenciada na escola, seja no processo de escolha do diretor ou do uso da quadra esportiva, de modo que os jovens possam projetar estas experiências para os outros campos da vida, fora da escola.


Ana Maria Prestes Rabelo,

Mestre em Ciência Política, membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial, de Belo Horizonte, MG. Endereço eletrônico: amprestes@hotmail.com

 

Política atrofiada: existe solução?

As pessoas não estão totalmente enganadas quando suspeitam da política! De fato, aquilo que normalmente entendemos por política é permeado de sacanagem, por mais que saibamos que existem pessoas honestas e de boa vontade em seu meio. Realmente temos pouco poder de influência direta nas decisões políticas. A maioria dos partidos são verdadeiras “máquinas” de influência e voto a serviço de um ou outro “figurão”. As leis que nos são apresentadas como resultado da democracia muitas vezes não passam da expressão dos interesses de pequenos grupos muito poderosos. Por outro lado, todos sabem que é na política que se decidem coisas muito importantes para nossa vida: educação, saúde, trabalho, meio ambiente, formas de participação, relações internacionais etc.



Parece que estamos aprisionados em uma concepção de política muito mesquinha. Talvez devêssemos recuperar algumas dimensões perdidas:



1) Para os gregos da antiguidade, a política era o espaço da liberdade. Ninguém podia ser verdadeiramente cidadão sem participar de um espaço público onde pudesse expressar suas ideias e ajudar a iniciar algo totalmente novo. Hoje, infelizmente caímos para o outro extremo: política parece ser o contrário da liberdade. Dela vêm os limites para nossa liberdade individual. Reduzimos tudo à luta pela sobrevivência e ao consumo, ou seja, àquilo que é próprio da nossa dimensão animal e “deixamos de lado” o que é especificamente humano. Deveríamos recuperar esta dimensão virtuosa da política para nos tornarmos mais humanos.



2) Os antigos valorizavam muito a liberdade pública, a ponto de ignorarem o indivíduo. Nós, modernos, valorizamos muito a liberdade privada, a ponto de não percebermos mais a importância das comunidades políticas. Por isso, talvez, estejamos enfraquecendo as estruturas e os valores comunitários. Mas é justamente na esfera comunitária que se constitui o sentido de nossas vidas e a base para a ação política mais ampla. Nem a liberdade dos antigos nem a moderna parecem suficientes: precisamos inventar uma nova forma.



3) Fomos levados a pensar que democracia é sinônimo de sistema parlamentar e da possibilidade de votar. Na verdade, democracia somente existe se a vontade do povo coincide com a vontade do governo. Mas como garantir esta coincidência se votamos em alguém que fica nos “representando” por quatro anos e fazendo o que bem entende? Reduzir nossa atuação política a ações individuais - como o voto - é uma armadilha que só fortalece aqueles que já estão “por cima”. Precisamos de espaços e movimentos coletivos em que possamos sonhar, projetar e defender o mundo que queremos.



Certamente o preconceito das pessoas contra a política tem um fundo de verdade. Mas este preconceito não é contra a política como um todo, mas contra a política atrofiada que nos é apresentada. Este preconceito, no entanto, pode levar à acomodação e à indiferença; a enfraquecer a democracia e fortalecer o domínio de alguns sobre muitos. Ele precisa ser superado. Ao atentarmos para dimensões da política que foram historicamente “esquecidas”, vemos uma luz no fim do túnel. Estamos convidados a contribuir na sua reelaboração e vivificação.

Fonte: http://www.mundojovem.com.br/entrevista-09-2010.php

Marina...Você se pintou?

Maurício Abdalla* para Adital - 05/10/2010


"Marina, morena Marina, você se pintou" - diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o "grito da Terra e o grito dos pobres", como diz Leonardo.

Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?

Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as "famiglias" que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.

Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas "os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz". Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.

Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. "Azul tucano". Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.

Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a "vitória da Marina". Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.

"Marina, você faça tudo, mas faça o favor": não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você "tanto faz". Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem "esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele".

Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas, Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. "Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu".

* Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros

José Serra quer cobrar impostos das Igrejas.











No lançamento da Campanha da Fraternidade, cardeal convoca entidades para pressionarem a favor dos excluídos no Brasil

JORNAL DO BRASIL • BRASIL • 2/3/1995

JOSÉ MARIA MAYRINK

SÃO PAULO _ O cardeal-arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, afirmou que o governo deve resistir à tentação de implantar o modelo neoliberal, para não agravar ainda mais a ´´vergonhosa“ situação dos 32 milhões de brasileiros que, segundo dados oficiais, vivem na indigência. ´´O número de excluídos não vai diminuir enquanto o capital se concentrar nas mãos de poucas pessoas“, advertiu o cardeal, ao falar da exclusão dos marginalizados, tema da Campanha da Fraternidade lançada ontem pela igreja.

Convencido de que o Brasil adotará o neoliberalismo se não houver uma imediata reação da sociedade, D.Paulo disse que as entidades não-governamentais devem fazer pressão para impedir que isso ocorra. ´´Por enquanto, o país não está no caminho certo, mas pode corrigir o rumo“, observou o cardeal, depois de interpretar como uma manifestação da tendência neoliberal ´´o fato de o trabalhador ter de viver com um salário mínimo de R$ 70, enquanto aqueles que têm cargos e influência tiveram aumentos de mais de 100%“.

A correção da rota, segundo D.Paulo, está nas mãos dos governantes. ´´Tenho confiança absoluta nessas pessoas, especialmente nesse homem com quem trabalhei mais de 15 anos em São Paulo e que agora governa o Brasil“, afirmou o cardeal, referindo-se ao presidente Fernando Henrique Cardoso. ´´Espero que, pouco a pouco, o Brasil seja de todos os brasileiros“, acrescentou ele, com a ressalva de que a aplicação da justiça social ´´não depende só do governo, mas também dos responsáveis pela produção e pela comercialização dos bens“.

O cardeal de São Paulo criticou a proposta do ministro José Serra de cobrar impostos de igrejas e instituições religiosas. ´´O ministro do Planejamento não está a par da legislação, pois não sabe que a igreja goza de isenção porque é uma entidade de direito público, como reconheceu Ruy Barbosa“, disse D.Paulo. ´´O ministro está dando um péssimo exemplo, pois com essa sugestão ele lança o povo contra o governo“, acrescentou. ´´igreja é povo, não é parede nem edifício“, argumentou o cardeal para lembrar que o dinheiro do imposto acabaria saindo dos bolsos dos fiéis.

Catador _ Depois de denunciar o agravamento da exclusão social no país, D.Paulo passou a palavra a aposentados, moradores de rua e catadores de papel para eles falarem como se sentem como excluídos. ´´Eu sou excluído porque cato papel nas calçadas e uma parte da sociedade não acha que eu faço um trabalho digno“, queixou-se o pernambucano Evandro Floriano de Oliveira, 33 anos, que mora debaixo de um viaduto. Seu colega José Amaro, presidente da Cooperativa de Papel e Material Reaproveitável, que também vive na rua, mostrou que a situação pode melhorar. ´´Para escapar dos atravessadores, a gente se organizou nessa luta que já reúne mais de 80 pessoas“, informou.
 

“Cansei…Basta”! Vou votar no Serra.

Cansei de ir ao supermercado e encontrá-lo cheio. O alimento está barato demais. O salário dos pobres aumentou, e qualquer um agora se mete a comprar, carne, queijo, presunto, hambúrguer e iogurte.

Cansei dos bares e restaurantes lotados nos fins de semana. Se sobra algum, a gentalha toda vai para a noite. Cansei dessa demagogia.

Cansei de ir em Shopping e ver a pobreza comprando e desfilando com seus celulares.

O governo reduziu os impostos para os computadores. A Internet virou coisa de qualquer um. Pode? Até o filho da manicure, pedreiro, catador de papel, agora navega…

Cansei dos estacionamentos sem vaga. Com essa coisa de juro a juro baixo, todo mundo tem carro, até a minha empregada. ” É uma vergonha! “, como dizia o Boris Casoy. Com o Serra os congestionamentos vão acabar, porque como em S.Paulo, vai instalar postos de pedágio nas estradas brasileiras a cada 35 km e cobrar caro.

Cansei da moda banalizada. Agora, qualquer um pode botar uma confecção. Tem até crédito oferecido pelo governo. O que era exclusivo da Oscar Freire, agora, se vende até no camelô da 25 de Março e no Braz.

Vergonha, vergonha, vergonha…

Cansei de ir em banco e ver aquela fila de idosos no Caixa Preferencial, todos trabalhando de office-boys.
Cansei dessa coisa de biodiesel, de agricultura familiar. O caseiro do meu sítio agora virou “empreendedor” no Nordeste. Pode? Cansei dessa coisa assistencialista de Bolsa Família. Esse dinheiro poderia ser utilizado para abater a dívida dos empresários de comunicação (Globo,SBT,Band, RedeTV, CNT, Fôlha SP, Estadão, etc.). A coitada da “Veja” passando dificuldade e esse governo alimentando gabiru em Pernambuco. É o fim do mundo.

Cansei dessa história de PROUNI, que botou esses tipinhos, sem berço, na universidade. Até índio, agora, vira médico e advogado. É um desrespeito… Meus filhos, que foram bem criados, precisam conviver e competir com essa raça.

Cansei dessa história de Luz para Todos. Os capiaus, agora, vão assistir TV até tarde. E, lógico, vão acordar ao meio-dia. Quem vai cuidar da lavoura do Brasil? Diga aí, seu Lula…

Cansei dessa história de facilitar a construção e a compra da casa própria (73% da população, hoje, tem casa própria, segundo pesquisas recentes do IBGE). E os coitados que vivem de cobrar aluguéis? O que será deles? Cansei dessa palhaçada da desvalorização do dólar. Agora, qualquer um tem MP3, celular e câmera digital. Qualquer umazinha, aqui do prédio, vai passar férias no Exterior. É o fim…

Vou votar no Serra. Cansei, vou votar no Serra, porque quero de volta as emoções fortes do governo de FHC, quero investir no dólar em disparada e aproveitar a inflação. Investir em ações de Estatais quase de graça e vender com altos lucros. Chega dessa baboseria politicamente correta, dessa hipocrisia de cooperação. O motor da vida é a disputa, o risco… Quem pode, pode, quem não pode, se sacode. Tenho culpa eu, se meu pai era mais esperto que os outros para ganhar dinheiro comprando ações de Estatais quase de graça? Eles que vão trabalhar, vagabundos, porque no capitalismo vence quem tem mais competência. É o único jeito de organizar a sociedade, de mostrar quem é superior e quem é inferior.
Eu ia anular, mas cansei. Basta! Vou votar no SERRA. Quero ver essa gentalha no lugar que lhe é devido.

“Quero minha felicidade de volta.” Estou com muito MEDO. Chega! Assim está DILMAIS.

O bem é mais sutil

Reproduzimos aqui artigo de Frei Betto, publicado na coluna “Tendências/Debates” da Folha de S.Paulo (edição deste domingo, 10/10):




Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte. Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência. Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de “marxista ateia”.



Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.



Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória – diria, terrorista – acusar Dilma Rousseff de “abortista” ou contrária aos princípios evangélicos. Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade.



Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo. Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica. Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que “a árvore se conhece pelos frutos”, como acentua o Evangelho.



É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam. Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto…



Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.



Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.



Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.



A resposta de Jesus surpreendeu: “Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes…” (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz.



Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.

Fonte: http://pauloteixeira13.com.br/2010/10/frei-betto-dilma-e-a-fe-crista/