A ética e direitos humanos



A ética parte da história dos homens: nossas realizações, nossos desafios e nossas incoerências, sejam individuais ou coletivas. Tudo o que fazemos cotidianamente, acaba sendo marcado por regras implícitas, normas, referências, valores e princípios que são parte tácita do mundo e comunidade na qual estamos imersos. 
A reflexão sobre o comportamento ético, parte então deste contexto de vida -individual e coletivo -questionando princípios, valores, regras, etc., implícitos em nossas ações, bem como o reflexo destas ações sobre o mundo e nossos semelhantes. Logo, a ética julga as relações humanas, conforme seu contexto histórico. 
A formação de comportamentos éticos, independente da época, sempre foram essenciais para o convívio harmônico do ser humano, além do que, tal formação é cada vez mais um desafio arrojado diante da vulnerabilidade dos valores inerentes aos direitos humanos.
 A ética está acima da moralidade. Sua reflexão é a reflexão a respeito da moralidade. A moral possui caráter prático, imediato e restrito. Já a ética produz uma reflexão sobre a moral, procurando justificá-la, com o objetivo de orientar racionalmente as ações humanas.
 Desta feita, a ética e a moral são congruentes na medida em que apontam como finalidade a construção de um caráter íntegro para o homem, equivalente, portanto, às perspectivas dos Direitos Humanos. A moral está presente em nosso discurso, influenciando nossos juízos e opiniões. 
A ética reflete tais juízos avaliando efetivamente se são importantes e podem ser entendidos como uma boa conduta aplicável a todos os sujeitos, ou seja, se de caráter universal. A ética promove modificações na moral, universalmente falando, orientando de forma racional qual o melhor modo de vida humana. 
Sobre as aplicações práticas da ética na esfera pessoal e social, o exercício de colocar-se no lugar do outro antes de dar uma resposta, antes de julgar, antes de tomar uma decisão, é primordial e nos ajuda a ser coerentes e éticos, além de evitar desavenças ou injustiças. 
A frase: "faço assim porque quero" é famosa e bem freqüente aos nossos ouvidos. Mas, seremos verdadeiramente homens éticos e justos na medida em que colocarmos nossos desejos em um plano secundário, privilegiando o todo, o comum, o conjunto, onde, na verdade, sempre estivemos inseridos. 
Se os Direitos Humanos fundamentam-se na preservação da vida e sua integridade física, moral e social, e se para vivermos em plenitude é preciso usufruirmos do direito à liberdade, poderemos preservá-la somente respeitando nosso semelhante. Portanto, tudo o que viola a consecução normal da vida - sua liberdade, igualdade, etc. - transgride os direitos fundamentais que nada mais são do que o direito de ser, de ser diferente, de ter a liberdade e suas próprias crenças, de não sofrer a discriminação por credo, raça, gênero, condição social, opção sexual, etc. 
Daí as dificuldades no exercício do comportamento ético, devido ao egoísmo inerente ao caráter humano que nos abstrai da consciência coletiva e de respeito aos direitos de ser de outros de nós. 
OLIVEIRA (2004) fala um pouco sobre este egoísmo nato: Em suma, o desafio fundamental de nosso século apresenta como pressuposto básico a fundamentação de um horizonte de bens e valores éticos de maneira universal, superando condutas arrogantes, egoístas e facilmente corrompíveis. Um desafio coletivo, uma responsabilidade de cada cidadão, independente de condição social, raça, credo, idade, para que de fato afiancemos nossos ideais de um povo íntegro e de princípios humanistas. 

Julio César 
Pesquisador pelo Centro Universitário Claretiano e Professor na área de Ciências humana. 

CONCEITO, INTERAÇÃO E APLICABILIDADE DA FILOSOFIA EDUCACIONAL NOS PARÂMETROS ESCOLARES DE HOJE


Discutir a Filosofia da Educação é antes de tudo, uma questão conceitual. Ao nosso entender é inegável o uso do conceito como elemento básico para a obtenção do conhecimento, seja este inerente a qualquer domínio da ciência. Desta forma acreditamos que conhecer a Filosofia e conhecer a Educação são pressupostos básicos para se analisar as interações entre ambas.
   
Assim, este artigo vai analisar conceitualmente os domínios desta disciplina para em seguida buscar uma resposta mais ou menos segura para o questionamento: Em que a Filosofia contribui para a compreensão dos fenômenos educacionais?
         
É importante destacar ainda a estreita relação entre a Filosofia e o conhecimento. Antes de discutir a Educação, precisamos conhecer o processo de desenvolvimento do conhecimento a partir da Antiguidade Clássica, onde percebemos uma transformação da tradição oral à perspectiva de um conhecimento marcado pela escrita.
            
Estas observações tornam-se relevantes na medida em que o conhecimento é o próprio objeto da educação. Nas palavras de Paulo Freire tomamos ensinar como educar:

Para entendermos a Filosofia como teoria devemos antes buscar a etimologia da palavra teoria. Teoria vem do grego e quer dizer uma forma privilegiada de ver. Em linhas gerais podemos entender a teoria como o aspecto sob o qual uma coisa se apresenta e como a visão da verdade. O conhecimento baseado na teoria é o conhecimento a partir da experiência, daquilo que se vê, daquilo que se pode chamar de verdade.

Portanto o conhecimento é um elemento indissociável da Educação, principalmente ao constatarmos que o processo educacional visa a fornecer ferramentas necessárias à construção do saber.
           
E no sentido de cumprir esta função última, torna-se necessário articular os domínios desta disciplina, agregando meios de operacionalizá-la, onde o profissional ou educando da área possam discutir e aplicar da maneira mais completa possível os conceitos desenvolvidos neste domínio da prática pedagógica.

Julio César Cientista da Religião e Antropólogo
Twitter:@jcientista

Perguntas que sempre nos acompanha ao longo de nossa existência: De onde viemos? Onde estamos? Para onde vamos?


Estas são três perguntas que atravessam a vida da humanidade de todos os tempos. Estão ligadas ao nascer da Filosofia. Batem em nosso coração de tempos em tempos. Causam até hoje espanto.
         
O filósofo alemão M. Heidegger reduzia-as a uma pergunta ainda mais concisa, absolutamente fundamental. Por que existem as coisas e não o nada? Enfim, por que existimos? Por que estamos aqui?
         
Outro filósofo, também alemão, I. Kant fazia-se quatro perguntas em torno da mesma angústia existencial: Que posso conhecer? Como devo comportar-me? Que me é permitido esperar? Quem é o homem?
         
Acompanhados com filósofos de tamanho peso histórico, não é infantil que nos façamos hoje, mais uma vez, essas perguntas. O primeiro início de resposta podemos encontrar no maior filósofo de todos os tempos: Platão. É isso mesmo, lá de Atenas, na passagem do V para o IV século antes de Cristo, o discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, escrevia que no início de todo pensar está uma atitude de admiração.
         
O poeta alemão Goethe”, octogenário, no crepúsculo de sua existência, exclama: “Eis que existo para admirar! O grau supremo a que o homem pode chegar é a admiração”. O primeiro gesto de admiração é que existimos. Somos uma realidade e não ficamos perdidos eternamente na obscuridade total do nada.
         
Então, de onde viemos? Do Ser e não do nada. Onde moramos? Na casa do Ser, diria Heidegger. Para onde vamos? Para habitar junto ao Ser. Só que este Ser tem nome. Não é uma realidade diluída e obscura. É um mistério pessoal de infinita densidade. Aliás são três, para os cristãos: Pai, Filho e Espírito Santo. Trindade augusta da qual viemos, na qual habitamos e para a qual caminhamos. Por isso nossa vida toda ela tem sentido, tem beleza, mesmo na dor, no sofrimento, na escuridão.
         
De onde viemos? Da harmonia e não do ruído. Onde habitamos? Na música e não no barulho? Para onde caminhamos? Para a sinfonia, e não para a desafinação.


Julio César 
Cientista da Religião e Antropólogo.
Twitter: @jcientista