Eleição do DCE da PUC-PR é barrada pela Justiça


Por Adriano Ribeiro Machado


As eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) realizado nesta quinta-feira (17) foram, no mesmo dia, suspensas por limitar judicial. O juiz da 20ª vara cível da região metropolitana de Curitiba, Anderson Ricardo Fogaça, determinou a suspensão do pleito estudantil alegando que a chapa da situação “Identidade” não cumpriu o artigo 44 do estatuto do próprio DCE.

A chapa da atual gestão ignorou o prazo de cinco dias para afixação do edital com as instruções sobre o processo eleitoral, que deveria ser divulgado antes do dia das eleições, previsto no estatuto da entidade. De acordo com a medida liminar a comissão eleitoral deverá organizar um novo processo eleitoral, respeitando os prazos que constam no estatuto social da entidade.

O pedido de suspensão foi solicitado pela única chapa de oposição inscrita na disputa “Até Quando?”, que teve sua candidatura impugnada dias antes da eleição. Além da anulação das eleições, a chapa de oposição também questionou substituições no estatuto do diretório nas vésperas da eleição e a formação dos componentes da comissão eleitoral que poderiam privilegiar a “Identidade” no pleito.

O atual presidente do DCE e estudante de direito, Rafael Rodrigues, que não disputará a reeleição, mas apoia a chapa “Identidade”, afirmou que o DCE recorrerá da decisão. “Queremos também que o regimento seja cumprido e respeitamos a decisão pela suspensão do processo pelo erro na eleição, mas iremos recorrer dessa liminar”, assegurou.

Já para a candidata à presidência pela oposição, Nicoly Kulcheski, estudante de serviço social, a anulação garantirá a lisura na escolha dos próximos dirigentes da entidade e que a liminar representa uma vitória da democracia. “Nós acreditamos que mais importante que a vitória de uma das chapas foi a vitória de ontem, pois quem ganhou foi a democracia dentro do movimento estudantil, que é nosso objetivo, e nossa maior vontade”, disse

Fonte: http://migre.me/RNIM

A Era Dunga e o fim do besteirol esportivo

Foi na Copa do Mundo de 1986, no México, com Fernando Vanucci, então apresentador da TV Globo, que a cobertura esportiva brasileira abandonou qualquer traço de jornalismo para se transformar num evento circense, onde a palhaçada, o clichê e o trocadilho infame substituíram a informação, ou pelo menos a tornaram um elemento periférico. Vanucci, simpático e bonachão, criou um mote (“alô você!”) para tornar leve e informal a comunicação nos programas esportivos da Globo, mas acabou por contaminar, involuntariamente, todas as gerações seguintes de jornalistas com a falsa percepção de que a reportagem esportiva é, basicamente, um encadeamento de gracinhas televisivas a serem adaptadas às demais linguagens jornalísticas, a partir do pressuposto de que o consumidor de informações de esporte é, basicamente, um retardado mental. Por diversas razões, Vanucci deixou a Globo, mas a Globo nunca mais abandonou o estilo unidunitê-salamê-minguê nas suas coberturas esportivas, povoadas por sorridentes repórteres de camisa pólo colorida. Aliás, para ser justo, não só a Globo. Todas as demais emissoras adotaram o mesmo estilo, com igual ou menor competência, dali para frente.




Passados quase 25 anos, o estilo burlesco de se cobrir esporte no Brasil passou a ser uma regra, quando não uma doutrina, apoiado na tese de que, ao contrário das demais áreas de interesse humano, esporte é apenas uma brincadeira, no fim das contas. Pode ser, quando se fala de handebol, tênis de mesa e salto ornamental, mas não de futebol. O futebol, dentro e fora do país, mobiliza imensos contingentes populacionais e está baseado num fluxo de negócios que envolve, no todo, bilhões de reais. Ao lado de seu caráter lúdico, caminha uma identidade cultural que, no nosso caso, confunde-se com a própria identidade nacional, a ponto de somente ele, o futebol, em tempos de copa, conseguir agregar à sociedade brasileira um genuíno caráter patriótico. Basta ver os carros cobertos de bandeiras no capô e de bandeirolas nas janelas. É o momento em que mesmos os ricos, sempre tão envergonhados dos maus modos da brasilidade, passam a ostentar em seus carrões importados e caminhonetes motor 10.0 esse orgulho verde-e-amarelo de ocasião. Não é pouca coisa, portanto.



Na Copa de 2006, na Alemanha, essa encenação jornalística chegou ao ápice em torno da idolatria forçada em torno da seleção brasileira penta campeã do mundo, então comandada pelo gentil Carlos Alberto Parreira. Naquela copa, a dominação da TV Globo sobre o evento e o time chegou ao paroxismo. A área de concentração da seleção tornou-se uma espécie de playground particular dos serelepes repórteres globais, lá comandados pela esfuziante Fátima Bernardes, a produzir pequenos reality shows de dentro do ônibus do escrete canarinho. Na época, os repórteres da Globo eram obrigados a entrar ao vivo com um sorriso hiperplastificado no rosto, com o qual ficavam paralisados na tela, como em uma overdose de botox, durante aqueles segundos infindáveis de atraso de sinal que separam as transmissões intercontinentais. Quatro anos antes, Fátima Bernardes havia conquistado espaço semelhante na bem sucedida seleção de Felipão. Sob os olhos fraternais do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi eleita a musa dos jogadores, na Copa de 2002, no Japão. Dentro do ônibus da seleção. Alguém se lembra disso? Eu e a Globo lembramos, está aqui.



O estilo grosseiro e inflexível de Dunga desmoronou esse mundo colorido da Globo movido por reportagens engraçadinhas e bajulações explícitas confeitadas por patriotadas sincronizadas nos noticiários da emissora. Sem acesso direto, exclusivo e permanente aos jogadores e aos vestiários, a tropa de jornalistas enviada à África do Sul se viu obrigada a buscar informações de bastidores, a cavar fontes e fazer gelados plantões de espera com os demais colegas de outros veículos. Enfim, a fazer jornalismo. E isso, como se sabe, dá um trabalho danado. Esse estado de coisas, ao invés de se tornar um aprendizado, gerou uma reação rançosa e desproporcional, bem ao estilo dos meninos mimados que só jogam porque são donos da bola. Assim, o sorriso plástico dos repórteres e apresentadores se transformou em carranca e, as gracinhas, em um patético editorial.



Dunga será demitido da seleção, vença ou perca o mundial. Os interesses comerciais da TV Globo e da CBF estão, é claro, muito acima de sua rabugice fronteiriça e de sua saudável disposição de não se submeter à vontade de jornalistas acostumados a abrir caminho com um crachá na mão. Mas poderá nos deixar de herança o fim de uma era medíocre da crônica esportiva, agora defrontada com um fenômeno com o qual ela pensava não mais ter que se debater: o jornalismo.

Impugnação gera polêmica nas eleições do DCE da PUC/PR

Os mais de 20 mil alunos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná vão às urnas nesta quinta-feira (17) para escolher a nova direção do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Mas, nos bastidores, uma disputa entre a atual gestão e uma chapa de oposição polemiza e coloca em cheque à lisura do processo eleitoral.


A principal polêmica é que a chapa de oposição “Até Quando?” foi impugnada poucas horas antes das eleições, mas ainda consta como opção de voto para os estudantes. “Eles impugnaram nossa chapa alegando campanha em lugar indevido: um adesivo colado na escada. Não divulgaram a impugnação para os alunos que iram votar, ou seja, ainda constam a opção 2 da nossa chapa nas cédulas”, reclama a ex-candidata a presidente da chapa de oposição, Nicoly Kulchesk.

Segundo Nicoly os problemas no processo eleitoral para o DCE tiveram origem desde o começo da formação da Comissão Eleitoral. “A chapa da situação alterou o estatuto do DCE e o regimento às vésperas da eleição em uma assembléia sem divulgação e mobilização, com apenas 27 estudantes na lista de presença. E ainda formaram duas chapas laranjas para dominarem a comissão e decidir por todos os alunos da PUC”, afirmou.

Com a impugnação da chapa de oposição, mas como ela aparece na cédula, os alunos da PUC/PR têm ainda quatro opções de voto: na única chapa na disputa da atual gestão “Identidade”; votar na chapa Ação, que considerada laranja no processo; votar em branco ou para anular o processo votar na chapa Até Quando?, deslegitimizando esta eleição fradulenta, sendo que se maioria absoluta de votos, isto é, 50% mais um foram nulos a eleição é cancelada.

A chapa Identidade, por outro lado, justifica que a impugnação da chapa de oposição se deu por decisão da comissão e que essa decisão será levada aos alunos em edital depois das eleições. A chapa Voadora, que não participam das eleições e consideradas laranjas no processo, votaram pela impugnação da chapa Até Quando?.

Na última quarta-feira (16), os integrantes da chapa de oposição realizaram uma reunião para debater a falta de lisura no processo. Compareceram cerca de 200 alunos de cursos variados. “O encontro foi importante para esclarecermos alguns pontos aos alunos, os motivos da impugnação e, principalmente para eles perceberem que o regimento não foi cumprido para todas chapas como deveriam, apenas para oposição”, comentou Mariana Dutra, da direção da União Paranaense dos Estudantes.

No início desta quinta-feira apenas alguns estudantes puderem votar, pois poucas urnas haviam sido autorizadas pela comissão. E os alunos ainda se confundiam em quem votar, pois a chapa impugnada ainda constava como opção.

Veja noticia original no Bog da UPE

Da pobreza ao poder: Como Estados efetivos e cidadão ativos podem mudar o mundo.

A Editora Cortez e Oxfam Internacional no Brasil lançam, na semana de 13 de setembro de 2009, o livro "Da pobreza ao poder: como cidadãos ativos e Estados efetivos podem mudar o mundo". O autor do livro, Duncan Green, responsável pelo Departamento de Estudos e Pesquisas de Oxfam estará no Brasil para as atividades referentes ao lançamento da publicação


Lançamento: Livro "Da Pobreza ao Poder: como cidadãos ativos e Estados efetivos pode mudar o mundo"

Duncan Green, Coordenador de Estudos e Pesquisas da Oxfam, virá ao Brasil para o lançamento do livro “Da Pobreza ao Poder – Como Cidadãos Ativos e Estados Efetivos Podem Mudar o Mundo”

Nos âmbitos local, nacional e global, pessoas em situação de pobreza estão estreita e crescentemente ligadas à sociedade por meio dos mercados de trabalho e dos bens e serviços que compram e vendem. Os mercados poderiam permitir às pessoas sair da pobreza e transformar suas vidas. No entanto, em muitos casos, a concentração de poder nos mercados impede que os benefícios do crescimento sejam usufruídos por pessoas afetadas pela pobreza. A redistribuição de poder nos mercados em todos os níveis é essencial para que o crescimento opere a favor dos pobres.

Da Pobreza ao Poder - Como Cidadãos Ativos e Estados Efetivos Podem Mudar o Mundo, publicado na Inglaterra pela Oxfam Internacional (2008), será lançado na Bienal Internacional do Livro, que acontece no Rio de Janeiro/RJ entre os dias 10 e 20 de setembro de 2009. A obra traz uma grande contribuição para um debate urgente e marcado por mudanças rápidas em torno do desenvolvimento. Sua análise baseia-se na experiência das organizações afiliadas de Oxfam International e contrapartes em mais de 100 países e em abrangentes discussões com diversos profissionais da área do desenvolvimento. A Cortez Editora assina a co-edição brasileira junto com a Instituição.

O livro oferece uma visão de mulheres e homens de todas as partes do mundo que tem educação, saúde e acesso a outros direitos bem como, dignidade e voz – e que são donos de seus destinos. Para que isso seja possível para todas e todos, faz-se necessário o estabelecimento de um novo acordo global – um acordo para a redistribuição de poder, participação, oportunidades e ativos. A experiência da Oxfam, retratada no livro, nos permite concluir que a redistribuição necessária pode ser alcançada por meio de uma combinação de cidadãos ativos e Estados efetivos.

Por que Estados efetivos? Porque a história revela claramente que nenhum país prosperou sem um Estado capaz de administrar o processo de desenvolvimento ativamente. Nada disso é fácil. As melhores constituições e Estados são como obras detalhadamente projetadas e podem ser comparados com grandes realizações da civilização no campo das artes visuais, da música, da filosofia ou da poesia.

Por que uma cidadania ativa se faz necessária? Porque para que as pessoas possam viver com dignidade e que Estados, empresas e outros sejam responsabilizados por suas ações, é crucial que os cidadãos possam determinar o curso de suas próprias vidas, lutando por seus direitos e por justiça em suas sociedades. Cidadãos ativos constituem um ingrediente essencial para que os Estados da atualidade trabalhem eficazmente para pôr fim à pobreza e à desigualdade em bases sustentáveis.

Outro destaque do Da Pobreza ao Poder - Como Cidadãos Ativos e Estados Efetivos Podem Mudar o Mundo, refere-se aos governos de países ricos. Segundo autor, eles devem concentrar-se, primeiramente, em colocar sua casa em ordem. Eles devem reprimir duramente em seus territórios atividades danosas, como o comércio de armas, a restrição ao fluxo livre de conhecimentos e tecnologia, a falta de ética das empresas, emissões de carbono que podem destruir o planeta. “Essa agenda de ‘parar de prejudicar’ deve ser complementada por uma solidariedade ativa com a luta de pessoas em situação de pobreza e suas comunidades dentro dos países em desenvolvimento, que deve incluir uma maior ajuda humanitária em termos de quantidade e qualidade. Não pode haver uma causa mais louvável. A luta contra o flagelo da pobreza, da desigualdade e da ameaça de um colapso ambiental definirá o século XXI, como a luta contra a escravidão ou pelo sufrágio universal definiu eras pregressas. Se falharmos, as gerações futuras não nos perdoarão. Se formos bem-sucedidos nesse esforço, elas se perguntarão como o mundo tolerou essa injustiça desnecessária e sofreu seus efeitos por tanto tempo.”, nos fala Duncan Green.

“A versão brasileira da obra chega num momento em que a superação da pobreza e da desigualdade extrema talvez constitua o mais abrangente dos consensos que unem hoje praticamente todos os brasileiros.” descreve Rubens Ricupero, em sua apresentação à edição brasileira.


Sobre o autor:

Duncan Green, desde 2004 dirige a área de Estudos e Pesquisas de Oxfam Grã-Bretanha. É também Profes sor Visitante da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos. O autor tem mais de 20 anos de experiência e de reflexão nos temas de de senvolvimento e de combate à pobreza e as desigualdades.

Formado em Física pela Universidade de Oxford, sua vida profissional mudou radical mente quando realizou uma viagem para a América do Sul, no final dos anos 1970. Viveu e trabalhou em diversos países acompanhan do como jornalista e ativista as dificuldades econômicas, políticas e sociais que carac terizaram a região nas décadas de 1980 e 1990. Essa experiência resultou na publicação de diversos livros sobre a América Latina, como, por exemplo, La Revolución Silenciosa, El auge de la economía de mercado en America Latina (Tercer Mundo editores, Colombia, 1997).

Em 1997, integrou os quadros da organização não governamental britânica CAFOD como Analista Político em Comércio e Globalização. Na ocasião, publicou diversos textos, sobre comercio internacional, pobreza e desenvolvi-mento. Esse novo desafio lhe possibilitou AM pliar seus horizontes e conhecimentos para novas regiões do planeta, especialmente África e Ásia.

No ano 2004, Duncan assumiu o cargo de As sessor Sênior no Departamento de Desenvol vimento Internacional do Governo Britânico. Atualmente, Duncan vive em Brixton, no sul de Londres, com a esposa e dois filhos.


Quem sabe o que é o amor?

O ser humano vive na busca contínua da felicidade, da realização pessoal, daquilo que dá alegria à vida. Muitas vezes, essa busca acontece inconscientemente, sem planejamento. Entretanto há algo que motiva esta construção no dia-a-dia: o amor.


É realmente o amor que nos faz sonhar com a conquista profissional, com a cara-metade, com a justiça social, enfim, com a auto-realização, mesmo que cada uma delas esteja distante de se tornar realidade. Mas quem pode definir o que é o amor, se cada pessoa possui valores e ideais de vida diferentes? Quem pode garantir que é o amor a panacéia para os males da sociedade?


O escritor Khalil Gibran, no livro Areia e espuma, diz que “O amor que não se renova a cada dia torna-se um hábito, e o hábito, uma escravidão”. De fato, as atitudes humanas retratam os sentimentos que mais se fortalecem no âmago individual. Sendo assim, o amor não se resume aos bons pensamentos e nem às mais belas palavras, mas, principalmente, às ações e atitudes que promovam, com eficiência, a liberdade.


O amor, portanto, não permite um ideal individualista, um ambiente descuidado ou um casamento infeliz. Para que o amor não se torne escravidão, as pessoas devem expressá-lo em todas as circunstâncias, numa perspectiva promissora da dignidade. E isso não é tarefa fácil, mas é a que dá sentido à vida.


Quem ama de verdade se compromete até o último fio de cabelo, pois amar é muito mais que querer; amar é realizar um projeto de vida que prima pelo bem comum e pela felicidade plena, por mais diferentes que sejam as pessoas. É fato, porém, que ao lado de todo amor está um pouco de sofrimento, pois o amor é um sentimento divino que os seres humanos ainda não aprenderam a administrar. Muitas vezes, é por isso que cresce o ciúme, a inveja e a intolerância.


As pessoas precisam compreender que o amor não é mercadoria, não exige nada em troca para existir. Amo porque amo e pronto! O amor é gratuidade, caso contrário não é amor, é egoísmo, é egocentrismo. Quando as vontades individuais falam mais alto, a sociedade não se compromete com as conseqüências, visto que cada um está voltado para si mesmo, fechado em seus desejos, o que gera um acúmulo de malefícios: depressão, xenofobismo, racismo etc.

 
Enquanto as pessoas não construírem uma sociedade onde todos possam caber, amar será sempre um desafio condicionante aos anseios particulares, mas isso não deve ser importante. O que é importante não é visto, não é planejado, é necessário estar leve para atrair o amor, até porque “para amar basta estar distraído” (Guimarães Rosa).


Maicelma Maia Souza,
pedagoga, pós-graduanda em psicopedagogia institucional e
clínica e coordenadora pedagógica no município de Ipiaú, BA.

O império do consumo - Por Eduardo Galeano


O sistema fala em nome de todos, dirige a todos as suas ordens imperiosas de consumo, difunde entre todos a febre compradora; mas sem remédio: para quase todos esta aventura começa e termina no écran do televisor. A maioria, que se endivida para ter coisas, termina por ter nada mais que dívidas para pagar dívidas as quais geram novas dívidas, e acaba a consumir fantasias que por vezes materializa delinquindo.
Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas para que outro mundo vamos mudar-nos?


A explosão do consumo no mundo actual faz mais ruído do que todas as guerras e provoca mais alvoroço do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco: quem bebe por conta, emborracha-se o dobro. O carrossel aturde e confunde o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Mas a cultura de consumo soa muito, tal como o tambor, porque está vazia. E na hora da verdade, quando o estrépito cessa e acaba a festa, o borracho acorda, só, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos partidos que deve pagar. A expansão da procura choca com as fronteiras que lhe impõe o mesmo sistema que a gera. O sistema necessita de mercados cada vez mais abertos e mais amplos, como os pulmões necessitam o ar, e ao mesmo tempo necessitam que andem pelo chão, como acontece, os preços das matérias-primas e da força humana de trabalho.


O direito ao desperdício, privilégio de poucos, diz ser a liberdade de todos. Diz-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são submetidas a luz contínua, para que cresçam mais depressa. Nas fábricas de ovos, as galinhas também estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão condenadas à insónia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem a metade dos sedativos, ansiolíticos e demais drogas químicas que se vendem legalmente no mundo, e mais da metade das drogas proibidas que se vendem ilegalmente, o que não é pouca coisa se se considerar que os EUA têm apenas cinco por cento da população mundial.


"Gente infeliz os que vivem a comparar-se", lamenta uma mulher no bairro do Buceo, em Montevideo. A dor de já não ser, que outrora cantou o tango, abriu passagem à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. "Quando não tens nada, pensas que não vales nada", diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, de Buenos Aires. E outro comprova, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: "Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas e vivem suando em bicas para pagar as prestações".
Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.
O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde a quantidade com a qualidade, confunde a gordura com a boa alimentação. Segundo a revista científica The Lancet, na última década a "obesidade severa" aumentou quase 30% entre a população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou uns 40% nos últimos 16 anos, segundo a investigação recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado. O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar só sai do automóvel par trabalhar e para ver televisão. Sentado perante o pequeno écran, passa quatro horas diárias a devorar comida de plástico.
Triunfa o lixo disfarçado de comida: esta indústria está a conquistar os paladares do mundo e a deixar em farrapos as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêem de longe, têm, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade, são um património colectivo que de algum modo está nos fogões de todos e não só na mesa dos ricos. Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão a ser espezinhadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hamburguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida à escala mundial, obra da McDonald's, Burger King e outras fábricas, viola com êxito o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas.


O campeonato mundial de futebol de 98 confirmou-nos, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola brinda eterna juventude e o menu do MacDonald's não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército de McDonald's dispara hamburguers às bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O arco duplo desse M serviu de estandarte durante a recente conquista dos países do Leste da Europa. As filas diante do McDonald's de Moscovo, inaugurado em 1990 com fanfarras, simbolizaram a vitória do ocidente com tanta eloquência quanto o desmoronamento do Muro de Berlim.


Um sinal dos tempos: esta empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. A McDonald's viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama a Macfamília, tentaram sindicalizar-se num restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas no 98, outros empregados da McDonald's, numa pequena cidade próxima a Vancouver, alcançaram essa conquista, digna do Livro Guinness.

As massas consumidoras recebem ordens num idioma universal: a publicidade conseguiu o que o esperanto quis e não pôde. Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que o televisor transmite. No último quarto de século, os gastos em publicidade duplicaram no mundo. Graças a ela, as crianças pobres tomam cada vez mis Coca-Cola e cada vez menos leite, e o tempo de lazer vai-se tornando tempo de consumo obrigatório. Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisor e o televisor tem a palavra. Comprados a prazo, esse animalejo prova a vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos conhecem, assim, as virtudes dos automóveis último modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas taxas de juro que este ou aquele banco oferece. Os peritos sabem converter as mercadorias em conjuntos mágicos contra a solidão. As coisas têm atributos humanos: acariciam, acompanham, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o automóvel é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados. As angústias enchem-se atulhando-se de coisas, ou sonhando fazê-lo. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas te escolhem e te salvam do anonimato multitudinário. A publicidade não informa acerca do produto que vende, ou raras vezes o faz. Isso é o que menos importa. A sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias: Em quem o senhor quer converter-se comprando esta loção de fazer a barba? O criminólogo Anthony Platt observou que os delitos da rua não são apenas fruto da pobreza extrema. Também são fruto da ética individualista. A obsessão social do êxito, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Sempre ouvi dizer que o dinheiro não produz a felicidade, mas qualquer espectador pobre de TV tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro produz algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX pôs fim a sete mil anos de vida humana centrada na agricultura desde que apareceram as primeiras culturas, em fins do paleolítico. A população mundial urbaniza-se, os camponeses fazem-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação, e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em toda parte, mas por experiência sabem que atende nas grandes urbes. As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os que esperam vêem passar a vida e morrem a bocejar; nas cidades, a vida ocorre, e chama. Apinhados em tugúrios, a primeira coisa que descobrem os recém chegados é que o trabalho falta e os braços sobram. Enquanto nascia o século XIV, frei Giordano da Rivalto pronunciou em Florença um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam "porque as pessoas têm o gosto de juntar-se". Juntar-se, encontrar-se. Agora, quem se encontra com quem? Encontra-se a esperança com a realidade? O desejo encontra-se com o mundo? E as pessoas encontram-se com as pessoas? Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente se encontra com as coisas? O mundo inteiro tende a converter-se num grande écran de televisão, onde as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos. As estações de auto-carros e de comboios, que até há pouco eram espaços de encontro entre pessoas, estão agora a converter-se em espaços de exibição comercial.

O shopping center, ou shopping mall, vitrina de todas as vitrinas, impõe a sua presença avassaladora. As multidões acorrem, em peregrinação, a este templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que os seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora submete-se ao bombardeio da oferta incessante e extenuante. A multidão, que sobe e baixa pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago, e para ver e ouvir não é preciso pagar bilhete. Os turistas vindos das povoações do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas bênçãos da felicidade moderna, posam para a foto, junto às marcas internacionais mais famosas, como antes posavam junto à estátua do grande homem na praça. Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam ao centro. O tradicional passeio do fim de semana no centro da cidade tende a ser substituído pela excursão a estes centros urbanos. Lavados, passados e penteados, vestidos com as suas melhores roupas, os visitantes vêm a uma festa onde não são convidados, mas podem ser observadores. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas. A cultura do consumo, cultura do efémero, condena tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje a única coisa que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, resultam ser voláteis como o capital que as financia e o trabalho que as gera. O dinheiro voa à velocidade da luz: ontem estava ali, hoje está aqui, amanhã, quem sabe, e todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shopping centers, reinos do fugaz, oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, para além das turbulências da perigosa realidade do mundo.

Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota como esgotam, pouco depois de nascer, as imagens que dispara a metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas a que outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar no conto de que Deus vendeu o planeta a umas quantas empresas, porque estando de mau humor decidiu privatizar o universo? A sociedade de consumo é uma armadilha caça-bobos. Os que têm a alavanca simulam ignorá-lo, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta. A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um defeito a superar: é uma necessidade essencial. Não há natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta.

10/Maio/2010

O original encontra-se em www.resumenlatinoamericano.org , nº 2199

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .