Política atrofiada: existe solução?

As pessoas não estão totalmente enganadas quando suspeitam da política! De fato, aquilo que normalmente entendemos por política é permeado de sacanagem, por mais que saibamos que existem pessoas honestas e de boa vontade em seu meio. Realmente temos pouco poder de influência direta nas decisões políticas. A maioria dos partidos são verdadeiras “máquinas” de influência e voto a serviço de um ou outro “figurão”. As leis que nos são apresentadas como resultado da democracia muitas vezes não passam da expressão dos interesses de pequenos grupos muito poderosos. Por outro lado, todos sabem que é na política que se decidem coisas muito importantes para nossa vida: educação, saúde, trabalho, meio ambiente, formas de participação, relações internacionais etc.



Parece que estamos aprisionados em uma concepção de política muito mesquinha. Talvez devêssemos recuperar algumas dimensões perdidas:



1) Para os gregos da antiguidade, a política era o espaço da liberdade. Ninguém podia ser verdadeiramente cidadão sem participar de um espaço público onde pudesse expressar suas ideias e ajudar a iniciar algo totalmente novo. Hoje, infelizmente caímos para o outro extremo: política parece ser o contrário da liberdade. Dela vêm os limites para nossa liberdade individual. Reduzimos tudo à luta pela sobrevivência e ao consumo, ou seja, àquilo que é próprio da nossa dimensão animal e “deixamos de lado” o que é especificamente humano. Deveríamos recuperar esta dimensão virtuosa da política para nos tornarmos mais humanos.



2) Os antigos valorizavam muito a liberdade pública, a ponto de ignorarem o indivíduo. Nós, modernos, valorizamos muito a liberdade privada, a ponto de não percebermos mais a importância das comunidades políticas. Por isso, talvez, estejamos enfraquecendo as estruturas e os valores comunitários. Mas é justamente na esfera comunitária que se constitui o sentido de nossas vidas e a base para a ação política mais ampla. Nem a liberdade dos antigos nem a moderna parecem suficientes: precisamos inventar uma nova forma.



3) Fomos levados a pensar que democracia é sinônimo de sistema parlamentar e da possibilidade de votar. Na verdade, democracia somente existe se a vontade do povo coincide com a vontade do governo. Mas como garantir esta coincidência se votamos em alguém que fica nos “representando” por quatro anos e fazendo o que bem entende? Reduzir nossa atuação política a ações individuais - como o voto - é uma armadilha que só fortalece aqueles que já estão “por cima”. Precisamos de espaços e movimentos coletivos em que possamos sonhar, projetar e defender o mundo que queremos.



Certamente o preconceito das pessoas contra a política tem um fundo de verdade. Mas este preconceito não é contra a política como um todo, mas contra a política atrofiada que nos é apresentada. Este preconceito, no entanto, pode levar à acomodação e à indiferença; a enfraquecer a democracia e fortalecer o domínio de alguns sobre muitos. Ele precisa ser superado. Ao atentarmos para dimensões da política que foram historicamente “esquecidas”, vemos uma luz no fim do túnel. Estamos convidados a contribuir na sua reelaboração e vivificação.

Fonte: http://www.mundojovem.com.br/entrevista-09-2010.php

Nenhum comentário:

Postar um comentário