Da resistência à ditadura nos anos de chumbo às acanhadas manifestações no século 21, o movimento estudantil brasileiro mudou de cara. O desafio é tentar driblar a apatia juvenil para fazer jus ao seu DNA: lutar contra o sucateamento do ensino e se posicionar frente às reivindicações da política nacional.
Em um discurso com predomínio do tom antineoliberal, jovens empunham a bandeira da educação em passeatas, debates e congressos, nos quais não deixam para trás reivindicações que passam pelo meio ambiente, o debate em torno do pré-sal e o combate à corrupção. No entanto, as iniciativas não escondem a baixa adesão de estudantes e o esvaziamento do movimento.
“Os jovens não são incentivados para a participação na esfera política e, mesmo convocados, omitem-se ou demonstram desafeição pela política”, diz a cientista política Rosana Nazzarie, professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).
Para Rosana, o movimento estudantil é importante porque incentiva a participação futura e consciente dos jovens em esferas decisórias mais amplas, incluindo a política nacional.
Os próprios estudantes reconhecem que o maior desafio do movimento passa pela adesão. Para o presidente da União Paranaense de Estudantes (Upes), Paulo Moreira da Rosa Júnior, a situação do movimento estudantil hoje é diferente do passado porque as formas de mobilização estão divididas. Há estudantes atraídos por ONGs e outras entidades, ao contrário de décadas anteriores, quando a concentração maior era no próprio movimento estudantil.
No Paraná, o movimento estudantil voltou à cena este ano, quando se uniu a milhares de pessoas para cobrar transparência e ética dos deputados estaduais. Mas não é somente em momentos como este que os estudantes estão presentes. Para o presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de Maringá, Lucas Okado, de 23 anos, por mais que o movimento estudantil não esteja em evidência na maior parte do tempo, ele nunca deixou de ser combativo e organizado. “Na UEM nós temos cerca de 50 cursos, quase todos com centros acadêmicos ativos, discutindo e reivindicando a melhoria do ensino”, diz.
Para o presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UEM, Stephano Nunes, 20, o movimento estudantil age de forma dinâmica. “Nós agimos prestando assistência estudantil, fazendo enfrentamento político, enfim, nos engajamos em prol de uma formação acadêmica de qualidade e de uma sociedade mais democrática”.
O presidente da União Londrinense dos Estudantes (Ules), André Fabio Lopes, 20, também acredita que o movimento estudantil continua sendo um poderoso instrumento de formação cidadã: “Eu não concordo quando dizem que o movimento está parado. Na verdade, temos formas de nos organizar diferentes das décadas passadas”, explicou Lopes.
Interesse
Quando o jovem é interessado nas questões políticas, o desejo de participação começa cedo. Messias Dídimo Andrade, 17 anos, é um exemplo. Ele cursa o 3.º ano do ensino médio e está ligado às reivindicações juvenis. Participa de eventos dos Conselhos da Criança e Adolescente e teve a iniciativa de formar um grêmio estudantil no colégio Dobrandino Gustavo da Silva, em Foz do Iguaçu. Este ano, Messias foi um dos três paranaenses eleitos para participar do Parlamento Juvenil do Mercosul. “O interesse político dos estudantes é bem fraco. Mas quando tem algo mais dinâmico a participação é boa”, avalia.
Para o historiador da UEM Reginaldo Dias, os grupos não eram mais fortes nas décadas passadas. “Considero apenas que era diferente. O país mudou. A pauta mudou. As formas de atuação devem ser coerentes com o ambiente institucional. Na época da ditadura, era uma luta maniqueísta e a pauta era bastante ampla”. Para o professor, não se deve ter a ilusão de que, naquela época, todo mundo era contestador e gostava de se mobilizar. Como as ações eram naturalmente ruidosas, criava-se essa impressão.
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