A dura realidade dos jovens brasileiros que são vítimas do tráfico internacional para exploração sexual na Europa.
Por Júnea Assir
Madri (Espanha) – Para a ONU, o tráfico
de pessoas é uma forma moderna de escravidão, e, pelas estimativas da
própria organização, mais de 2 milhões de pessoas são vítimas do tráfico
humano a cada ano.
humano a cada ano.
De acordo com a Organização Internacional do
Trabalho, dentro desta estatística quase 1 milhão de pessoas são
traficadas no mundo, anualmente, com a finalidade de exploração sexual,
sendo que 98% são mulheres, comércio que movimenta 32 bilhões de dólares
por ano. Atualmente, uma das atividades criminosas mais lucrativas, uma
verdadeira mina de ouro já que o investimento é quase zero, no caso dos
trabalhos de uma vítima de exploração sexual, o serviço será vendido
várias vezes por dia. O maior destino destes jovens é a Europa
Mediterrânea, encabeçado por Espanha, seguido por Portugal e Itália,
grandes receptores desta mercadoria brasileira.
Quase todas as vítimas têm um perfil
similar: jovens ilusionados em mudar de vida, com precária situação
econômica, pouca ou nehuma formação escolar, desempregados, vivenciando a
falta de oportunidades e com idade entre 18 e 30 anos. Muitos vivem em
zonas rurais muito pobres. A operação começa pelo aliciamento das
vítimas, falsas ofertas de trabalho no exterior, promessas de um futuro
promissor. Alguns são atraídos para trabalhar como modelos, dançarinos,
em hotelaria, ou mesmo no labor doméstico em casas de famílias.
Muitos sabem que vão trabalhar na prostituição, mas não imaginam em que condições, idealizam uma liberdade e uma cumplicidade entre companheiros, que não existe.
Muitos sabem que vão trabalhar na prostituição, mas não imaginam em que condições, idealizam uma liberdade e uma cumplicidade entre companheiros, que não existe.
Em muitos casos, a captação é realizada
por conhecidos, às vezes por gente da própria família, outras por
pessoas que exerceram a prostituição e agora recebem comissões da
organização. Como se trata de outro país, a quadrilha geralmente
organiza toda papelada necessária como passaporte e papéis essenciais
para entrar no território escolhido. Também se responsabilizam pela
compra do bilhete de viagem, momento em que automaticamente a vítima dá
início à sua dívida.
Os aliciados recebem instruções de como se vestir e atuar perante as autoridades do setor de
imigração. Alguns grupos fazem escala em outros países do território Schengen, como França, para evitar, por exemplo, voos direto à Espanha. Os controles de imigração de Paris relaxam se o destino final não é o próprio país. Algumas pessoas viajam na companhia de integrantes do grupo que os ajudam nos controles alfandegários, em outras situações são recebidos no destino final, automaticamente retirando-lhes toda documentação e dinheiro que previamente receberam para ensinar ao controle de imigração do país.
Neste momento, passam a entender que o
paraíso não existe, e, no caminho para o inferno, local onde vão
permanecer e prostituir-se, começa a demonstração de poder: ameaça
física e moral, fundamentados na vulnerabilidade dos novos prisioneiros.
Em cárcere privado são submetidos à vexação como usar roupas íntimas e
sensuais. Se há resistência por parte da pessoa, seguramente sofrerá
coação, ou até ameaças à própria família que está no Brasil, mas que
supostamente observada por algum integrante do bando. São severos os
meios de controles, como trancafiamentos em pequenos quartos ou
vigilância por circuitos de videocâmaras, até brutais agressões. Em
saunas, bares, apartamentos, ou vias públicas, as vítimas deste tráfico
são exploradas em diferentes pontos, na maior parte não sabem nem onde
estão.
Rede de mulheres
Na Espanha, a prostituição está
perfeitamente integrada dentro de um ambiente urbano. Periodicamente,
são feitas mudança de endereço, para que ninguém se acostume com a zona,
ou possa estreitar relações com os clientes mais habituais. Cada passo é
bem planejado para não deixar vestígio e para tirar melhor proveito da
situação. Às vezes, fazem o traslado da jovem coincidindo com o período
menstrual para otimizar seu rendimento. Importante membro das redes são
as “Mamis” ou controladoras, que vigiam as vítimas, neste caso,
predominantemente mulheres. Ficam ao seu lado quase todo tempo e
encarregam-se de que não escapem e para tranquilizá-las e fazê-las
pensar que a circunstância não é a pior.
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