Infelizmente, a
etimologia não ajuda a diferenciar "ética" de "moral".
Simplesmente a palavra grega ethos significa
morada ou costume. A palavra latina equivalente émos, moris, que também significa morada, costume. Qualquer
diferenciação entre ética e moral veio, portanto, do uso dessas palavras.
No âmbito filosófico,
existe o costume (ethos) de definir bem os conceitos para melhor compreensão.
Comicamente, esse costume também se aplica a esses termos relativos ao costume: moral significa um conjunto de normas e
valores aceitos por um indivíduo ou grupo como corretos (ou seja, os
deveres que nos impomos por considerá-los o certo a ser feito). Ética seria o
estudo filosófico da moral, a busca pela fundamentação da moral, definir os
critérios para decidir entre o certo e o errado. Difícil entender? Talvez
alguns exemplos nos ajudem...
Uma pessoa que tenha
pedido um livro emprestado a seu colega, depois de um tempo, vendo que seu
colega não cobrou a devolução, decide ficar com o livro para si, ou vendê-lo ou
dar a outra pessoa. Qualquer dessas ações seria considerada moralmente má para
uma pessoa religiosa (pois fere o mandamento de não roubar), para uma pessoa
que afirme o direito de propriedade privada, para alguém que entenda que violar
uma lei (roubo é um crime previsto em lei) é sempre ruim ou para uma pessoa que
pense que prejudicar alguém não está correto.
Percebemos pessoas
diferentes condenando o roubo por motivos diferentes. Cada pessoa ou grupo tem
suas noções de certo e errado. Umas fundamentam-se na religião, outras no
direito, outras nas leis e convenções, outras na regra de ouro. Temos, portanto
uma gama variada de "morais", cada qual se fundamenta em noções
diferentes de certo ou errado.
O filósofo que reflete
sobre esse tema poderia levantar uma série de objeções a cada um dos critérios
anteriores: se uma ação é boa porque Deus manda, então se Deus mandasse roubar
seria justo fazê-lo? Qual a fundamentação racional para considerarmos a
propriedade privada um direito inalienável? Será que todas as leis são justas?
Em caso contrário, agir contra a lei não seria justo? A ética procura
entender se existem razões válidas para definir algo como certo ou errado, se a
religiosidade é um bom critério para definir o bem, se observância da lei
garante uma ação moralmente boa e evita o mal, se podemos falar em direitos (e
valores) universais. Como podemos notar, a ética é uma reflexão sobre a
ação moral, sobre o que torna uma ação boa ou má. Por essa razão, muitos chamam
a Ética de Filosofia Moral.
Seria uma tentação
dizer nesse momento que enquanto falamos de várias "morais" só
podemos falar em Ética no singular. Isso seria uma meia verdade: vários
pensadores trataram da Ética em perspectivas diferentes (há portanto, muitas
perspetivas éticas). Mas não seria falso afirmar que cada um dos sistemas
éticos que já se teve notícia tentou abarcar a totalidade da ação moral. Tentou
ser uma teoria geral da moral.
Para o desespero de
todos aqueles que esperam do filósofo que fale de ética como alguém
que "revela" os novos mandamentos (deveres) que devem ser
observados nos tempos atuais, ele só pode levantar critérios
racionais para ação moral (ou mostrar que certas regras não têm bons
critérios). Nenhum filósofo se disporia a pensar no lugar dos outros e afirmar
categoricamente o que deve ou não ser feito. Essa é uma tarefa para seres
pensantes, que os filósofos esperam ainda existir por aí.
Email: jcesar2480@gmail.com
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