Política com P maiúsculo é mais do que política partidária. Todos nós, consciente ou inconscientemente, voluntária ou involuntariamente, fazemos política. Política é como respiração. Não dá para viver sem respirar, como não dá para conviver sem fazer política. Optamos o tempo todo, escolhendo ou rejeitando as coisas. Estamos no meio de uma crise global e plural: política, econômica, ecológica, ética, civilizacional, das instituições etc. O redemoinho que nos envolve é grande. Urge recriarmos um modelo de convivência social e ecológica com relações éticas e estruturas de fraternidade.
A importância das instituições
Decisivo para a ética na política não é simplesmente a ética privada dos governantes, mas o tipo de instituição política, da qual dependem os cidadãos para ter acesso aos direitos que devem ser universais.
A convivência social exige a existência de instituições políticas, criadas para organizar e gerenciar as relações humanas nas sociedades mais complexas. As instituições políticas, assim como toda instituição, têm um começo muitas vezes libertador. Todavia, com o passar do tempo, vão se enrijecendo e afastando-se de seus princípios e inspirações originais. É o que acontece com as instituições políticas também, salvo exceções.
Há questões de fundo que solapam as instituições políticas. Em nível institucional, por exemplo, o financiamento privado das campanhas eleitorais; em nível de relações humanas (ética), a perda de valores morais, a incapacidade de confiarmos na nossa capacidade de resolver socialmente nossos problemas, o que nos faz transferir para salvadores da pátria essa tarefa. Isso se sente na burocracia, na acomodação e no corporativismo do funcionalismo público, na desvalorização da experiência histórica, no consumo exacerbado, no individualismo, na absolutização da tecnologia (“o sistema não permite”, “tenho que seguir ordens/leis”), no descaso com os empobrecidos e na banalização do sofrimento. O caos nos serviços públicos - SUS, escolas públicas e órgãos públicos - é tão grande que passa a ser considerado natural esperar indefinidamente numa fila que não anda.
Mudar com ética?
Aqui, optamos por entender ética como um jeito de conviver que encarna a regra de ouro: “Não faça aos outros aquilo que não quer que lhe seja feito”. Ou seja, mais do que um pensar ético, um agir ético é imprescindível para realizarmos o desafio de transfigurar as instituições e pessoas políticas.
Quatro pontos são imprescindíveis para um agir ético de forma a contribuir para o processo de transfiguração das instituições políticas. Pensar e agir:
a) a partir do empobrecido. Karl Marx dizia que “o lugar social determina o lugar epistemológico”, ou seja, nossos olhos, em última instância, não estão no nosso rosto, mas nos nossos pés. Pensar e agir a partir do empobrecido, do enfraquecido, do pequeno é encarnar a regra de ouro.
b) de forma coletiva e participativa. Ninguém é salvador da pátria, nem dono da verdade. Deve ser uma busca conjunta. Envolver a todos na participação é vital. Discernir em mutirão a partir dos últimos.
c) a partir de toda a biodiversidade. Superar assim o antropocentrismo, que considera o ser humano como o centro/rei da criação. Não é. Hoje, sabemos que todos os seres vivos - terra, água e toda a biodiversidade - integram a mesma comunidade de vida. Nós, os humanos, dependemos de todos os outros seres.
d) a partir de um modelo econômico justo e sustentável ecologicamente. Isso implica elevar a Economia Popular Solidária ao status de política econômica de Estado e coluna mestra da sociedade. Ser vassalo da idolatria do mercado e do capital é algo imoral e só aprofunda a crise das instituições políticas.
Enfim, intuo que devemos dedicar 10% das nossas energias para tentarmos eleger os melhores políticos, aqueles que por vocação aceitam o pedido do povo para exercer mandatos. E devemos dedicar 90% das nossas energias na construção de movimentos populares autênticos que orientem a indignação dos pobres frente a tantas injustiças.
Questões para Debate
1 - Na escola, como poderia acontecer um processo de sustentabilidade?
2 - Que características seriam necessárias para uma empresa ser ética e ao mesmo tempo responsável pelo meio ambiente?
3 - Como consumidores, qual deve ser a relação com os produtos que consumimos?
Gilvander Luís Moreira,
frei e padre carmelita, mestre em Exegese Bíblica, assessor da CPT, CEBI, CEBs, SAB e Via Campesina.
Endereço eletrônico: gilvander@igrejadocarmo.com.br
Artigo publicado na edição nº 405, jornal Mundo Jovem, abril de 2010, página 8
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